A vantagem – ou
desvantagem – de já se ter vivido um pedacito é já ter um bom número de
histórias – ou estórias – contáveis.
Nem todas
dignificantes para quem as conta, nem todas dignificantes para o protagonista
do que é contado.
Calhou-me, em
catraio na escola então primária, agora primeiro ciclo, dois irmãos como
colegas. Mais tarde, e porque a zona de residência na cidade continuava
próxima, acabámos por partilhar o mesmo liceu.
Esses dois, com
diferença de um ano e pouco entre eles, eram peças especiais. Para que se tenha
uma ideia, quando se zangavam com alguém, arregimentavam mais uns quantos que
segurariam na vítima, enquanto eles se entretinham a dar uso ao cinto que lhes
segurava os calções, primeiro, as calças mais tarde. Isto desde os primeiros anos
de escola.
Já no liceu, tive
com o mais novo uma verdadeira cena de pugilato, das raras que vivi, e da qual
ainda guardo uma cicatriz na mão direita, de lhe ter acertado bem em cheio.
Por esses tempos
(’72, ’73, ’74) soube-os ligados a um tal de “MN”, Movimento Nacionalista,
coisa pouco simpática e do outro lado da barricada que eu defendia, que andava
a escrever e distribuir, na clandestinidade possível, panfletos contra a guerra
colonial.
No ano lectivo
1974/75, em que já não partilhámos liceu por via das moradas de residência,
soube que tinham sido por várias vezes detidos pelos militares, algumas no
liceu, outras em casa, por suspeita de pertencerem ao ELP – Exército de
Libertação Português – um movimento de extrema-direita, que pretendia repor pelas
armas o regime deposto com a revolução.
Passou o tempo e
pedi-lhes o rasto. A um e a outro. E, com ele, a lembrança sequer que tinham
existido. Até um destes dias!
O nome ouvido no
noticiário televisivo fez-me levantar as orelhas. As imagens que se lhe seguiram,
dando o desconto de quarenta anos vividos de parte a parte, fez-me recuar no
tempo. E uma busca na web tirou-me mesmo quaisquer dúvidas residuais.
Aquele fulano na
pantalha e que se candidatava numas eleições que não para um cargo público era
mesmo aquele com quem me bati, que recorria a outros para os seus trabalhinhos
sujos e que, mais velho fosse uns anos, teria sido agente da PIDE p’la certa.
Ficou-me, para
além da raiva sobre o passado, uma dúvida: deveria eu “por a boca no trombone”
e divulgar o que sobre ele sei?
Em público seria
complicado, que duvido que os militares tenham registos desses tempos
conturbados. E, quanto ao resto, seria “palavra contra palavra”, em que a sua
alta posição social me derrubaria p’la certa.
Fiquei-me por
fazer uns desabafos junto de alguns conhecidos, escolhidos. Do que daí advier,
com ou sem investigações por parte dos seus oponentes, passar-me-á
completamente ao lado.
Quanto a ele,
certamente que, mais cedo ou mais tarde, terá que desatar os nós que deu na vida
como qualquer outro. Eu mesmo incluído.
By me
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