Data: quinze de
Agosto de mil novecentos e oitenta e tal.
Como a fixei? Por
ser feriado e essa ser a pedra de toque para todo o episódio.
Era eu
administrador do prédio onde residia. E este estava em obras. Havia que
aumentar o declive do telhado, devido a infiltrações de águas da chuva. Nem uma
telha havia lá em cima nesse dia!
Pouco depois do
almoço, tocou a campainha: era o técnico de TV que ia reparar o sistema de
distribuição colectivo do prédio.
No fim do
trabalho, umas duas horas mais tarde, regressamos a minha casa para que lhe
pagasse. Grande bronca! Tinha deixado as chaves de casa… dentro de casa. Pela
primeira vez na vida!
Vivendo sozinho, a
coisa torna-se complicada. Para ajudar à festa, quem tinha uma chave de reserva
de minha casa… estava de férias para fora!
Contactada a única
empresa de Lisboa e arredores que estava aberta no feriado e que me poderia
resolver a questão, disseram-me que tinham apenas um piquete para toda a zona e
que não sabiam quando ou se poderiam atender o meu pedido.
Os bombeiros cá da
zona informaram-me que com a escada de “pescoço de cavalo” não faziam o
trabalho e que a escada “Magirus” do conselho estava avariada. Em caso de
emergência, chamavam a de Lisboa.
De Lisboa ouvi uma
gargalhada perante o meu pedido.
E a minha
paciência a descer perigosamente para muito perto da linha de água.
Foi então que
chegaram os operários que faziam as reparações do telhado. Confrontados com a
minha pilha de nervos, propuseram-se resolver a coisa. E resolveram!
Quatro homens, eu
incluído, agarraram as duas pontas de uma corda bem forte, no telhado. Um
quinto, amarrado no meio dela, desceu pela fachada, entrou em minha casa pela
janela e abriu-me finalmente a porta.
Não seria o filho
de minha mãe que faria aquela viagem de uns 10 metros de descida controlada mas
de uns 30 metros de queda livre! Mas fiquei-lhes francamente agradecido.
No meio desta
história de final feliz, um factor me entristeceu:
Sendo feriado e
estando bom tempo, bastantes eram as pessoas que estavam por ali na rua. Mas nem
uma só estranhou que um desconhecido descesse por uma fachada e entrasse num
apartamento pela janela. Sem que estivesse visível o locatário!
Nem deram o
alarme, nem chamaram a guarda nem mesmo lá foram saber da legitimidade da
manobra. Se se tratasse de um assalto, talvez me deixassem o telefone para me
poder queixar!
Ser cidadão passa
por intervir na vida do colectivo. Numa tangente ou mesmo numa secante!
By me
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