Naquele tempo não
havia “passes sociais”. Aliás, ficávamos a roer as unhas de inveja quando alguém
mostrava um cartão ou o que trazia sob a lapela do casaco e passava sem pagar o
bilhete. Só mais tarde percebi que esse emblema no casaco ou o cartão era da
temível polícia política.
E nesse tempo também
não havia preço único para a viagem, fosse qual fosse o seu percurso. Os
trajectos estavam divididos por zonas e passar de uma para outra era pagar
bilhetes mais caros.
Nesse tempo também
não havia azo a consumismos. Aliás, nem se usava a palavra. As crianças, como
eu era, tinham brinquedos, prendas ou surpresas em datas que conviessem, se o
merecessem e se houvesse orçamento para isso. O que ouve ou vê houve, “Oh mãe/pai:
eu quero isto!” seguido de uma birra ou amuo se a resposta é negativa, era algo
completamente impensável.
Vai daí, as poucas
lojas que possuíam brinquedos nas montras eram lugar de peregrinação
infanto-juvenil, com sonhos a atravessarem as vidraças e pousarem nos
escaparates.
O meu trajecto
para a preparatória teria que ser feito atravessando duas zonas. Muitas vezes o
não fiz, saindo algumas paragens antes da minha e, com isso, poupar os tostões
da diferença. E o caminho restante feito a pé, as mais das vezes rente a uma
loja em particular que existia na avenida da Igreja.
Na montra, alguns
bonecos semelhantes a estes. De um outro material, mais borracha que plástico,
uns sendo assim, infantes, outros cavaleiros com plumas no elmo…
De comum com estes,
o tamanho e o poderem ser articulados e mudados de posição e armas.
Cheguei a ter dois
deles, um a pé, outro a cavalo. Saídos das zonas saltadas, dos lanches
minguados na escola e da magríssima semanada que recebia.
Mas, caramba: que
satisfação me deram, o quanto eles lutaram e me encheram a imaginação, de
permeio com alguns outros de colegas e amigos (que partilha era tónica comum) e
quanto eles duraram! Anos.
A alegria e tempo
de uso hoje dura tanto tempo quanto o que se consegue convencer os pais a
comprarem um outro, que este cedo fica remetido a uma caixa ou gaveta.
A satisfação de
termos algo que saiu do nosso próprio esforço não creio que tenha rival.
Brinquedos de garotos ou gadjets de adultos.
Se pintar,
escrever, compor, mesmo fotografar, fosse coisa fácil e sem esforço, creio que
muitos o deixariam de fazer.
Quanto a este
bonecos, mais uns cavaleiros que agora sei valer a pena adquirir, irão para um
lugar especial, aqui à vista e na minha memória.
By me
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