quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Rotinas




Tem-me acontecido neste último ano ter com muita frequência o mesmo horário.
Sei que para a maioria das pessoas isso é o habitual: horas certas para começar a trabalhar, horas certas para deixar de trabalhar.
Acontece, porém, que no meu tipo de actividade profissional isso é particularmente raro. Cada dia um horário de trabalho ou, na pior das hipóteses, horários mais ou menos certos uma semana seguida.
Tantos dias num mesmo ano (mais de dois treços) com o mesmo horário e, ainda por cima, muito semelhante com o comum dos meus concidadãos é algo de insólito. Pelo menos para mim.
Mas, mais que insólito, é-me desagradável. Essa rotina de todos os dias acordar à mesma hora, sair de casa à mesma hora, apanhar o mesmo comboio à mesma hora, eventualmente usar a mesma porta de acesso e sentar no mesmo banco… todos os dias?!!!!!
É realmente demais para mim e provoca-me um sério desconforto.
Acontece que nestas rotinas a que sou obrigado a submeter-me acabo por ir conhecendo de vista os mesmos passageiros, às mesmas horas, entrando pela mesma porta na composição, sentando-se nos mesmos bancos, lendo o mesmo jornal ou revista… Tão mau para mim quanto o viver esta rotina é constatar que ela parece ser normal e confortável para tantos que, comigo, diariamente migram do bairro suburbano para a grande cidade.
De entre estes “conhecidos-de-vista” sobressai-me uma senhora e uma garota. Aparentemente mãe e filha, a primeira na casa dos quarenta, a segunda rondando os treze/catorze anos. E, de tantas vezes as tenho visto, à mesma hora, no mesmo ponto do cais de embarque, entrando p’la mesma porta, sentando-se no mesmo banco, que já lhes conheço os tiques, eu próprio imbuído já desta terrível rotina.
Mas, mais que a minha própria rotina desagradável, dói-me ver a garota. Tem um ar triste. Todos os dias tem um ar triste, muito triste. A sua rotina diária é ter um ar triste. Que nunca a vi sorrir, pese embora a enormidade de vezes que já a vi mais a mãe.
Mas entendo a sua tristeza. Muito bem.
Todos os dias, à mesma hora, embarcar no mesmo comboio, sentar no mesmo banco, sair na mesma estação, tendo a mesma companhia… também eu, se tivesse a sua idade, teria um ar profundamente triste, todos os dias.
Pois se hoje, com esta minha idade, me entristece esta rotina de todos os dias, à mesma hora, …
Um dia, quem sabe, ofereço-lhe qualquer coisa, ou peço-lhe para deixar que lhe faça uma fotografia, ou conto-lhe uma anedota, ou provoco-lhe um sorriso, ou… o que quer que seja que lhe quebre, e a mim, esta rotina de todos os dias, à mesma hora, apanhar o…
Morrer de tédio p’la rotina será terrível. Morrer de tédio p’la rotina nessa idade é uma catástrofe!

By me

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