quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Armadilhas




Disse-me um dia alguém que “Um fotógrafo é um taxidermista do tempo.”
A frase é interessante, bonita e tenho-a usado amiúde.
Mas eu prefiro dizer que um fotógrafo é um retalhador do planeta, um coleccionador de fragmentos que ele mesmo produz, com os quais, eventualmente, constrói o seu próprio mundo à luz dos seus próprios conceitos de belo e feio.
Na verdade, o universo está sempre aí, imutável na sua transformação constante, mostrando-nos tudo ao mesmo tempo: de belo e de horripilante.
Aquilo que fazemos, nós com a nossa voracidade de coleccionar o que não podemos possuir, é ter o obturador da alma aberto em permanência, na secreta esperança que através dele passe um pedaço que valha a pena guardar.
A câmara fotográfica é quase que como uma armadilha de pássaros, daquelas de caixa, pauzinhos, fio e sementes ou formigas d’asa. Nós apenas temos que esperar ouvir a caixa cair, sentados à distância a comer uma maçã roubada no pomar mais próximo.

By me

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