Quando, há uns
dias, li que Vasco Lourenço tinha avisado que estaria para estalar uma guerra
na Europa por via da crise económica, tive pena dele.
“É que”, pensei, “será
que ninguém o avisou que essa guerra já começou e nem sequer foi este ano?”
Aquilo que ele não
sabe é que essa guerra não decorre nos moldes que ele, ex-militar, conhece e
praticou. Não tem frentes de combate, linhas de abastecimento e é tão
generalizada que a história lhe dará o nome, se por cá estiver alguém em condições
de nomear alguma coisa, de III guerra mundial.
Tentarei explicar
o meu ponto de vista:
A questão do poder
de alguém sobre outrem, ou de um povo sobre outro, é uma quase inevitabilidade,
não sendo possível a humanidade estar muito tempo sem que se manifeste esse
desejo absurdo.
Durante todo o séc.
XX vivemos duas guerras convencionais que extravasaram continentes e se espalharam
por todo o globo, com mais ou menos incidência aqui ou ali. Chamaram-lhes “mundiais”.
Calaram-se as
armas, formalmente, e sobreveio a seguinte, a que chamaram de fria. Igualmente
global, com diversas frentes, em que os dois principais adversários nunca se
confrontaram directamente.
Também esta acabou
por ter um “cessar-fogo” com a queda do muro de Berlim e o desagregar da União
Soviética.
Mas não significou
isto que os desejos de hegemonia tenham sido extintos. Para além de um dos
contendedores se manter mais ou menos incólume, surgiram dois outros em liça,
cada qual com desejos de supremacia a seu jeito. E se o primeiro existe no
continente Americano e chama-se EUA, os demais existem na Europa e na Ásia,
dando pelos nomes de UE e China.
Qualquer um deles
quer afirmar-se como uma super-potência e poder reclamar o direito de
supervisionar e decidir em tudo quanto é canto desta bola azul.
Têm-no vindo a
fazer, devagarinho e à medida do poder que possuem, travando e alimentando pequenas
guerras tradicionais fora do seu próprio território à imagem e semelhança do
que sucedeu durante a guerra-fria, usando outros povos como frentes de combate.
Mas, desta feita,
a principal arma em uso nem sequer é a nuclear, que além de universalmente
considerada como bárbara, é destruidora de recursos materiais e humanos. Os
tais recursos que estão na origem do desejo de poder.
A arma actual é
económica! Mina-se a economia do adversário, destrói-se-lhe a capacidade de
auto-suficiência, retira-se-lhe a capacidade de resistir e ocupa-se o território
com a nossa própria moeda, os nossos produtos, os nossos próprios conceitos de
gestão de produção e de sociedade. Sem derramamento de sangue pátrio.
Isto é francamente
patente e notório no Sudeste Asiático, nas Africas, no continente
Sul-Americano. E não é novo.
Acontece que um
confronto com dois oponentes em simultâneo nada tem de fácil. As estratégias não
são as mesmas, a gestão de forças é complicada e pode sempre haver surpresas na
frente menos guarnecida.
É assim que existe
como que uma espécie de aliança entre dois deles contra o terceiro: eliminar o
mais fraco para depois resolver a coisa entre os mais fortes. E o mais fraco é…
a UE.
Por cheias de bondade que estejam as ideias e
ideais na sua fundação – e estarão – a verdade é que a Europa está condenada a
não se entender com facilidade. Eu diria que só com muita dificuldade. São
povos diferentes, culturas diferentes, organizações sociais diferentes. E também
entre os países que a constituem existe o desejo de poder sobre os vizinhos. Veja-se
como os “grandes” querem decidir sobre os “pequenos”, por muito que estes
esperneiem.
É assim que temos
a China e os EUA a apoiarem e instigarem as questões internas da UE, fazendo a
pressão possível com os meios que possuem para que esta se desagregue. E que,
em perdendo poder económico a nível mundial, deixe de ser um oponente perigoso,
permitindo aos outros dois tratarem das coisas entre si. Que é como quem diz,
guerrearem-se tranquilamente pelo poder generalizado sem se preocuparem com a
retaguarda.
Esta crise económica
não surgiu agora, saída do quase nada em 2008, como muitos defendem. Trata-se
de um processo antigo, paulatinamente alimentado e alicerçado. Veja-se o que
sucedeu com quem quis retirar o petróleo da hegemonia do dollar: Iraque e Líbia.
Veja-se o que sucedeu e sucede com os “acordos” comerciais com a China e a
rapidez como os seus produtos e poder financeiro se vão espalhando. Europa, Ásia,
América, África…
A crise económica
e política (e em breve de valores) que grassa na Europa e no nosso cantinho
periférico português não é nem fortuita nem meramente fruto das nossas próprias
asneiras no modo de vida. Somos a frente de combate já há anos, sem baionetas
nem explosivos, em que as baixas são apenas em civis: nós.
Por isso digo que
o senhor Vasco Lourenço acordou tarde nessa sua previsão: a guerra já começou há
que tempos e as estratégias não são as que ele domina.
By me
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