Hoje chorei por
duas vezes. E há quem diga que um homem não chora!
A primeira foi
logo quando saí da cama. Ontem devo ter arrefecido mais do que deveria e, vai
daí, uma bela de uma constipação. Uma narina, e o olho do mesmo lado, a
mostrarem, em fio, o que têm lá por dentro.
Nada que não
conheça já, desde há muitos anos, e que o meu velho e fiel amigo “Aspergic” não
ajude a resolver. Durou até um pedaço depois do almoço.
A segunda… bem, a
segunda foi já perto das sete da tarde, na Praça da Figueira, em Lisboa.
Caminhava eu em
direcção à estação de comboios, a caminho de casa, quando um homem, na casa dos
vintes e muitos, trintas e poucos, me saúda e me pergunta pela mão.
Estranhei!
Por um lado,
porque não o reconheci. Por outro porque, e devido ao frio e a mão engessada
arrefecer mais que a outra, tinha-a escondida debaixo do casaco e colete.
Perguntei-lhe como sabia. E esclareceu-me:
Era ele a vítima
que os que me agrediram perseguiam e a quem tinham “arreado” forte e feito.
Saudamo-nos e
contámos as mazelas um do outro, eu a mão partida, ele diversos hematomas no
corpo, grandes galos na cabeça, golpes na cara e vergões nos braços e pernas,
alguns músculos difíceis de mover, mas nada de partido.
E contou-me a sua
versão dos acontecimentos, quase tão rocambolesca quanto eu a imaginava, com
uns pinguinhos extras de racismo pelo caminho (mulato e brasileiro, ainda que
legal e a viver por cá há anos).
Aproveitei e
expliquei-lhe que “voltas” teria que dar, se quisesse, junto das autoridades,
que se trata de um crime que a polícia e o ministério púbico tratam sem que
tenhamos que fazer mais que apresentar queixa e comparecer quando chamados.
Não sei se o fará
ou não. Mas o que fez, e que me deixou com algumas lágrimas a escorrerem-me
pela cara quando se afastou, foi agradecer-me o ter sido eu a levar o primeiro
golpe com o taco. Que quando chegou a ele parecia que a raiva tinha acalmado e
não apanhou com tanta força. Quando não, disse-me, talvez que não estivesse ali
para nos falarmos.
Um homem não
chora, e menos ainda na presença de outros.
Mas a forma como
aquele desconhecido me agradeceu e o facto de, talvez, o eu estar como estou
ter evitado o pior a outrem…
Juro que valeu a
pena a mão partida e as lágrimas que hoje de tarde e agora mesmo me correm.
Texto e imagem: by me
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:)
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