A fila era quase
tão grande quanto esta.
Só que, no lugar
de carros eram pessoas. Muitas mais pessoas.
Aliás, a fila era
tal que me perguntei se, ao chegar a minha vez, receberia o almoço ou o lanche.
Mas sendo que as
alternativas eram nulas, deixei-me ficar, com aquele conformismo de quem não
tem alternativa.
Passado um pouco,
e com a fila a crescer atrás de mim, surgem três senhoras, todas dondocas, que
se encostam à que estava à minha frente e ficam um nico de conversa.
Vendo uma delas o
meu olhar de reprovação, que antecipava uma conversa não muito cordial (nada
cordial mesmo), diz-me com o maior dos desplantes:
“Não se importa
que fiquemos aqui, junto com a nossa amiga, pois não?”
Olhei para ela,
olhei para a fila que, entretanto, havia aumentado nas minhas costas, e olhei
para ela de novo. E, antes mesmo de a minha boca dizer aquilo que o meu olhar
já denunciava, dispara a que já estava na fila aquando da minha chegada:
“Nem penses nisso!
Ninguém vai passar á frente de ninguém! Vamos todas lá para trás.”
E abalaram, talvez
uns vinte lugares lá para trás.
Foi óptimo!
Poupou-se uma conversa pouco simpática; poupou-se o eu fazer uma fotografia das
suas caras, que gosto de fotografar quem me ultrapassa nas filas, com ou sem
pedido; e a que resolveu a questão subiu mais uns degraus na minha
consideração.
E digo subiu
porque a conheço, que partilhamos a entidade patronal. Tal como as amigas, que
resolveram passar o almoço na palheta com ela, lá na nossa cantina.
Sendo que nenhuma
delas é menininha, suponho que façam deste atropelo pedido a prática habitual.
Ficará para uma próxima a fotografia, que cedo ou tarde o repetirão comigo,
estou certo.
É que nunca gostei
de ser ultrapassado. À papo-seco, no pão-com-manteiga ou na fila para um almoço
rotineiro.
E se não fiz a
fotografia de quem me quis incomodar, fica a fotografia destes carros,
inocentemente arrumados e sem atrapalharem ninguém. O que já vai sendo raro,
confessemos.
Texto e imagem: by me
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