O sol já se
preparava para procurar outros locais mais quentes que a minha rua quando saí
de casa para comprar pão.
Foi então que tive
um primeiro encontro com eles.
À distância, dei
logo com o grupo de uns sete ou oito, homens e mulheres, todos na casa dos
vintes e tais ou trintas e poucos, usando trajes mais ou menos formais. Todos
carregavam uma pasta, mais ou menos volumosa, cheia de papéis e circundavam
esta carrinha, que aparentava tê-los trazido.
O meu trajecto era
pelo outro lado da rua, mas fui olhando, que estava incomodado (palavra pouco
expressiva, esta) com o estacionar da viatura, meio atravessada, ocupando dois
lugares numa rua onde lugares de estacionamento são menos abundantes que políticos
honestos. Mas lá fui, com pensamentos não muito lisonjeiros para o motorista.
Estava eu a tomar
o meu cafezinho quando o bando entrou, em busca do mesmo. E foi aí que tive
medo. Muito medo.
Estava o grupo
organizado, qual pelotão militar, para tomar de assalto os prédios da
vizinhança em busca de contratos para serviços de comunicações.
Aquele vendedor
solitário que vai batendo a rua, de porta em porta, tentando ganhar a vida, já é
do passado. Agora vêem organizados, com chefe e tudo, com carrinhas de
transporte e direito, talvez, a um cafezinho para dar coragem.
Nada tenho contra
os que fazem pela vida honestamente. E estes fazem-nos com muita dificuldade,
que o que ganham será muito pouco certamente. Mas costumam bater-me à porta
quando menos jeito me dá, interrompendo o que não é suposto ser interrompido e,
se acontece não responder, com uma insistência irritante.
Regressei a casa
com um único pensamento positivo: “Se vou ter que levar com eles, ao menos que
seja com uma delas, que têm umas carinha larocas e sempre compensam a chatice
de me interromperem.” Não foi!
Foi um deles, todo
simpático e sorridente, que me brindou com um esticar de mão e o início do
discurso do costume: “Olá! Sou o Xxxx Xxxx e estou aqui a representar a empresa
XPTO.”
“Pois eu não!”,
foi a minha resposta. “Não tenho esse nome nem represento essa empresa. E,
antes que vá mais longe, sempre lhe digo que não estou interessado nos vossos
produtos.”
Abanou mas não
desistiu, como mandam as regras dos vendedores. E tentou perguntar-me porquê. Não
o deixei.
“É que, sabe, os
serviços que aqui tenho em casa são-me pagos pelo meu patrão. Tem algo mais
barato para me propor?”
Foi o “três em um”:
primeiro cara de surpresa pela resposta, depois desagrado disfarçado por mais
uma recusa, seguida de um sorriso ao perceber que estava a correr com ele com
uma brincadeira. Despedida rápida e cordial e seguiu para a porta seguinte,
esforço inútil que sei estar vazia a casa.
Entendo que fazem
pela vida e até costumam ser simpáticos, ainda que chatos. E se coleccionarem
formas de recusa, creio que a minha será original. Em podendo eu provocar-lhes
um sorriso ganho o dia; se lhes puder poupar tempo ganham eles a oportunidade
de “fazerem” mais portas. E este, em se juntando aos demais, cansados que
estarão certamente e com poucos - se alguns - contratos feitos, sempre terá
algo de diferente para contar sentados na carrinha gelada que os levará de
volta.
Só não lhes perdoo,
que raio, o terem assim arrumado a carrinha!
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