terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A cunha




Há muitos, muitos anos atrás, estava eu a gravar uma peça de teatro e esteve no estúdio um fotógrafo.
Nada demais, aliás coisa corriqueira, que se não fosse um da casa seria um de uma revista para alguma entrevista a um dos actores que ali estivessem.
Não sei o que o levou lá, mas recordo algumas coisas muito especiais a seu respeito, que não o nome:
Era homem para rondar os quase 60 anos;
De origem britânica, salvo erro;
Fotografava em médio formato, uma Bronica se a memória me não falha;
Não tinha o braço direito, do cotovelo para baixo.

Recordo ter ficado boquiaberto com este último facto, bem como com as soluções técnicas que ele tinha encontrado para fazer o seu trabalho. E uma admiração descomunal por ele ali estar.

Agora vejo-me imobilizado do braço esquerdo, com a vantagem de ser temporário (espero eu) e de não ser canhoto.
Mas com a certeza de que não será isso que me impedirá de continuar a fotografar, dentro das limitações mas sem amarguras ou queixumes.
Esta é a primeira dessa série limitada: uma cunha, factor indispensável na organização social e económica portuguesa.
O cúmulo do caricato, acredite-se ou não, é ter sido comprada numa “loja do chinês”, há coisa de uma semana.

By me

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