segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pense! Vai ver que não dói.




Eu sou do tempo em que cada fotografia feita era despesa garantida.
Desde logo no suporte original – negativo ou diapositivo. Em seguida na revelação e, se fosse esse o caso, na sua positivação. Só no fim de tudo isto se pensava numa impressão de maiores dimensões se, e só se, a imagem o merecesse.
Mas também sou do tempo em que a intervalos regulares e curtos havia que abrir a câmara, e trocar o suporte. Vinte e quatro ou trinta e seis imagens, se se usasse o 35mm, de dez a dezoito se se usasse o 120, uma a uma no caso de 9x12 ou maior. O trabalho que dava, só o acto de trocar! E o espaço que ocupava no saco ou no bolso as caixas de película virgem ou exposta! Para já não falar na necessidade de as ordenar de alguma forma, física ou de memória, que todos os rolos eram – são – numerados a começar em 1!
Também sou do tempo em que os arquivos eram – são – caixas e caixas, pastas e pastas, em caixotes, prateleiras, sacos. Com identificações externas, nem sempre bem organizadas.
Tudo isto implicava, garantidamente, que o fazer de uma fotografia obrigava a pensar no acto em si e nas consequências. Há dinheiro para isto (do próprio ou do orçamento do cliente)? Como o classifico? É um ensaio ou uma imagem definitiva?
Claro que era sempre a “definitiva”, que o tempo de revelação e impressão impedia, a maioria das vezes, o repetir da fotografia.
O premir o botão do obturador, fosse qual fosse o suporte e o orçamento, implicava haver certezas. Nas escolhas, nas decisões, nos métodos.
Mas também sou do tempo em que, ao constar-se posteriormente um erro na tomada de vista, era ele razoavelmente analisado, estudado, recordadas as circunstâncias e os raciocínios. E, mais tarde e numa ocasião em que a situação fosse semelhante, o passado pesava e as lições recordadas.
Nos tempos que correm, com as actuais tecnologias de tomada de vista e posterior edição, com a capacidade quase infinita e o peso e volume quase que insignificante dos suportes, com as possibilidades de editar vezes sem conta uma mesma imagem e a custo zero, o processo tentativa e erro perde peso e importância.
De um mesmo assunto ou situação fazem-se não uma ou duas mas dez ou vinte imagens. Que se sabe serem inconsequentes  em termos de custo e trabalho. E fazem-se pequenas variações de ordem técnica ou estética, sempre com a certeza de que, de entre tantas, alguma ficará “boa”. Até porque depois, num qualquer Photoshop a coisa se resolve.
O processo mental de escolhas na tomada de vista passou para a secretária do computador. Deixou de se pensar no “O que vou fazer?” para se pensar em “Como vou melhorar isto?”

Não tenho por errado o fazerem-se muitas imagens de um mesmo assunto. Até porque “A prática trás a perfeição” ou, pelo menos, a aproximação à perfeição. Fotografia incluída.
Mas a prática sem pensar, sem ponderar as diversas opções na tomada de vista, sem ter a certeza do que se está a fazer, não conduz a lado nenhum que não seja ao perpetuar os mesmos erros, o repetir as mesmas fórmulas, como quem sabe a tabuada mas é incapaz de dizer quantos são nove vezes onze.

Texto e imagem,: by me

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