Eu sou do tempo em
que cada fotografia feita era despesa garantida.
Desde logo no
suporte original – negativo ou diapositivo. Em seguida na revelação e, se fosse
esse o caso, na sua positivação. Só no fim de tudo isto se pensava numa impressão
de maiores dimensões se, e só se, a imagem o merecesse.
Mas também sou do
tempo em que a intervalos regulares e curtos havia que abrir a câmara, e trocar
o suporte. Vinte e quatro ou trinta e seis imagens, se se usasse o 35mm, de dez
a dezoito se se usasse o 120, uma a uma no caso de 9x12 ou maior. O trabalho
que dava, só o acto de trocar! E o espaço que ocupava no saco ou no bolso as
caixas de película virgem ou exposta! Para já não falar na necessidade de as
ordenar de alguma forma, física ou de memória, que todos os rolos eram – são –
numerados a começar em 1!
Também sou do
tempo em que os arquivos eram – são – caixas e caixas, pastas e pastas, em
caixotes, prateleiras, sacos. Com identificações externas, nem sempre bem
organizadas.
Tudo isto
implicava, garantidamente, que o fazer de uma fotografia obrigava a pensar no
acto em si e nas consequências. Há dinheiro para isto (do próprio ou do
orçamento do cliente)? Como o classifico? É um ensaio ou uma imagem definitiva?
Claro que era
sempre a “definitiva”, que o tempo de revelação e impressão impedia, a maioria
das vezes, o repetir da fotografia.
O premir o botão
do obturador, fosse qual fosse o suporte e o orçamento, implicava haver
certezas. Nas escolhas, nas decisões, nos métodos.
Mas também sou do
tempo em que, ao constar-se posteriormente um erro na tomada de vista, era ele
razoavelmente analisado, estudado, recordadas as circunstâncias e os raciocínios.
E, mais tarde e numa ocasião em que a situação fosse semelhante, o passado
pesava e as lições recordadas.
Nos tempos que
correm, com as actuais tecnologias de tomada de vista e posterior edição, com a
capacidade quase infinita e o peso e volume quase que insignificante dos
suportes, com as possibilidades de editar vezes sem conta uma mesma imagem e a
custo zero, o processo tentativa e erro perde peso e importância.
De um mesmo
assunto ou situação fazem-se não uma ou duas mas dez ou vinte imagens. Que se
sabe serem inconsequentes em termos de
custo e trabalho. E fazem-se pequenas variações de ordem técnica ou estética,
sempre com a certeza de que, de entre tantas, alguma ficará “boa”. Até porque
depois, num qualquer Photoshop a coisa se resolve.
O processo mental
de escolhas na tomada de vista passou para a secretária do computador. Deixou
de se pensar no “O que vou fazer?” para se pensar em “Como vou melhorar isto?”
Não tenho por
errado o fazerem-se muitas imagens de um mesmo assunto. Até porque “A prática
trás a perfeição” ou, pelo menos, a aproximação à perfeição. Fotografia incluída.
Mas a prática sem
pensar, sem ponderar as diversas opções na tomada de vista, sem ter a certeza
do que se está a fazer, não conduz a lado nenhum que não seja ao perpetuar os
mesmos erros, o repetir as mesmas fórmulas, como quem sabe a tabuada mas é
incapaz de dizer quantos são nove vezes onze.
Texto e imagem,: by me
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