sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O santo Graal




Por vezes cometemos os maiores disparates a tentar resolver um a questão, estando a solução debaixo do nosso nariz há muito tempo.
Procurei, e bastante, um determinado artigo. Fui encontrando, em diversas lojas, vários modelos parecidos mas não iguais ao que queria. E mesmo essa parecença não servia para o que queria.
E fui explicando aos vendedores o que queria, para que queria e perguntando onde poderia encontrar aquilo que procurava. A resposta era, quase que invariavelmente, que não sabiam onde, em alternativa, poderia eu comprar aquilo que não tinham.
Ontem mudei de estratégia. Melhor dizendo, de terreno a bater. Deixei a baixa lisboeta, mais a Almirante Reis, Martim Moniz, Morais Soares, Estefânia e arredores, e fui directo para Alvalade. Bingo!
Não encontrei na primeira, mas indicou-me outra loja ali no bairro; aí também não tinham, mas deram-me a referência de duas outras lojas que poderiam ter; Destas, uma não tinha, ainda que tivesse tudo revolvido e mandou-me para a outra, onde acabei por encontrar o que procurava. Não exactamente, mas tão próximo que é como se fosse. E diz-me a bela da senhora que sabia bem o que eu queria mas que teria que esperar uma semana, que o vendedor vem às sextas-feiras e faria ela uma encomenda.
Fiquei quase que apaixonado pela senhora, pela simpatia e afabilidade, pelo conhecimento do que vendia e do que poderia vender. Mas, pela loja, foi paixão à primeira vista.  
E acabei por lhe pedir para fotografar esta belíssima caixa registadora com 50 anos e que foi a primeira e única que a loja teve. Comprada por ela para o estabelecimento, quando a inaugurou. Pelo que me disse, tem sido cobiçada um sem número de vezes, sendo que, e para além de dinheiro, já lhe ofereceram uma nova, toda modernaça, para a troca.
“Nem pensem”, disse-me. “Gosto dela, faz tudo o que eu quero, e nunca se avariou. Porque haveria de mandar embora uma amiga fiel de longa data?”

Em Alvalade os carros não andam depressa e respeitam os peões nas passadeiras. Os residentes conhecem-se e cumprimentam-se à passagem. Os lojistas, ainda que querendo fazer negócio, não deixam que se saia do bairro sem se ir satisfeito. E é difícil não encontrar de tudo, no bairro em geral e nesta drogaria em particular.
Os idealizadores dos centros comerciais querem fazer deles, num mesmo espaço, todos os comércios e, por cima, as residências e serviços. Esquecem-se eles do factor mais importante das cidades: as pessoas.
Alvalade tem, na horizontal, aquilo que os centros comerciais têm na vertical. Com a vantagem de não ser asséptico e possuir calor humano.
E, como se nada disto bastasse, até é em Alvalade que está localizada uma das melhores lojas de fotografia da cidade.
Porque raio não comecei eu logo por aqui, se até já conheço, e bem, o bairro?

Texto e imagem: by me

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