sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Felicidade




O ser humano precisa de se afirmar no grupo a que pertence. Pelo que é e pelo que faz.
E um retrato, um registo para a posteridade, feito formalmente ou em tom de brincadeira, é uma forma de afirmação, objecto de observação e critica cerrada por parte do retratado.
Curioso é de observar que se manifesta ou critica sobre o que é ou o que faz expresso em retrato. E são dois grupos, manifestamente distintos. A fronteira fica algures na casa dos quarentas anos de idade, nuns casos mais acima, noutros mais abaixo.
No grupo dos mais novos, o que é observado e/ou criticado é aquilo que faz.
As poses, as expressões, as posições corporais, os relacionamentos com outros retratados.
O eventual – ou frequente – desagrado não se manifesta sob a forma de “não gosto” ou “fiquei mal”, mas antes pela ironia, pelos comentários jocosos, pela auto-critica. Frequentemente, com o menosprezo da sua própria aparência e uma crítica acutilante sobre os demais no grupo retratado.
Para estes, o que é importante num retrato não é o que são mas antes o que fazem e como o fazem.
Por seu lado, os pertencentes ao grupo mais velho preocupam-se francamente mais com o que são ou aparentam ser.
As manifestações de idade constatáveis pelo peso ou volume, pela posição do esqueleto, pela cor da pelagem ou pelas rugas são os factores que mais procuram ver num retrato, numa tentativa inútil de constatar que não parecem ser o que são. Que os olhos dos outros não vejam aquilo que sabem ser.
Estou em crer que a felicidade passa por uma sã convivência com o “Eu” físico, tentando melhora-lo se se o entender, mas não o negando ou repudiando.
E, acima de tudo, não ligando a mínima à opinião que os outros possam ter sobre si mesmo. Ao vivo ou no papel.

Texto e imagem: by me

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