segunda-feira, 17 de outubro de 2011

PEEC ou PREC




Regressei Sábado a casa com um sorriso amargo na cara.
Sorriso porque éramos muitos a protestar, porque estes muitos não se deixaram estar em casa e quiseram mesmo mostrar o seu descontentamento. Transversal a tudo quanto é grupo na sociedade.
Mas amargo porque, e apesar dos cartazes que vi, o que ali foi pedido não foi uma Revolução. Ainda que muitos o pensassem.
O que ali foi reclamado pela esmagadora maioria dos presentes foi uma Evolução. Uma mudança na continuidade. Foi um “Não alterem muito as coisas, mantenham os nossos direitos e regalias e dêem-nos ainda mais!”
A grande maioria não protestava contra o facto de as suas vontades não serem respeitadas por parlamentares e governantes. Protestava por não terem emprego, por terem menos dinheiro, por terem menos acesso à saúde, à justiça, à educação.
São protestos legítimos e, lamentavelmente, cada vez mais necessários nos tempos que correm.
Mas o grave da questão está em que, em tendo isso e mais uns trocos para os supérfluos, estará tudo bem e na mesma. Continuarão, talvez, a colocar a cruzinha no boletim de voto e a contar que os eleitos resolvam os seus problemas e giram a coisa pública, preferencialmente sem “incomodarem” o cidadão comum.
Lutar por isto não é lutar por uma Revolução. É lutar por uma Evolução, por uma continuidade, com tudo o que isso implica: competitividade (interna ou com outros povos, pacífica ou belicista); continuar a aceitar que uns podem comer de tudo e que outros só de algumas coisas e de quando em vez; continuar a viver consumindo de tudo, precise-se ou não disso; e continuar a aceitar que alguns decidam sobre a vida de todos, na forma de co-existir, nas regras que lhe estão associadas, as mais delas proibindo.
O que tenho ouvido falar sobre “Democracia participativa” é exactamente aquilo que se não quer: o levar as pessoas a juntarem-se e decidirem sobre elas e os seus, a serem ouvidas nas decisões do colectivo, a serem, de facto, solidárias e interventivas. Quer seja no governo central, quer seja no trabalho, quer seja no bairro. Isso dá muito trabalho e implica pensar.
Uma revolução não se anuncia nas internetes nem se faz ao fim-de-semana, entre o almoço e o jantar. Uma revolução, mesmo que seja contra um sistema económico e financeiro caduco e moribundo às nossas custas, faz-se agindo a cada momento, em casa, no trabalho, nos cafés, na rua. A cada passo, sem anuncios e de surpresa. Agindo efectivamente contra-corrente, impedindo, revertendo ou limitando aquilo que se entende por errado e a corrigir.
As revoluções de sofá, os protestos de faces-books e as manifestações de fim-de-semana são exactamente aquilo que o poder instalado (político e económico) mais gostam: inconsequentes!
As pessoas protestam, desabafam, gritam palavras de ordem e exibem cartazes mais ou menos agressivos, mais ou menos humorísticos. Ponto final! Que tudo continua na mesma, os créditos e descréditos bancários a fluírem, os mesmos a decidirem sobre quem pode fazer o quê, o quanto é pago e o quanto é cobrado por cada hora de trabalho e de imposto, e quanto fica nos bolsos dos que gerem bem mais que uma empresa ou um país.

Em tempos houve em Portugal uma expressão que acabou por ser rotulada de “maldita”: PREC. Processo Revolucionário Em Curso.
Hoje vivemos o PEEC: Processo Evolutivo Em Curso ou, para ser mais rigoroso, Processo Estacionário Em curso.
Com o beneplácito de uma classe dirigente (política ou económica) que aplaude estas manifestações e que procura soluções para apaziguar os ânimos sem alterar coisa nenhuma.

Texto e imagem: by me

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