Regressei Sábado a
casa com um sorriso amargo na cara.
Sorriso porque éramos
muitos a protestar, porque estes muitos não se deixaram estar em casa e
quiseram mesmo mostrar o seu descontentamento. Transversal a tudo quanto é
grupo na sociedade.
Mas amargo porque,
e apesar dos cartazes que vi, o que ali foi pedido não foi uma Revolução. Ainda
que muitos o pensassem.
O que ali foi
reclamado pela esmagadora maioria dos presentes foi uma Evolução. Uma mudança
na continuidade. Foi um “Não alterem muito as coisas, mantenham os nossos
direitos e regalias e dêem-nos ainda mais!”
A grande maioria não
protestava contra o facto de as suas vontades não serem respeitadas por
parlamentares e governantes. Protestava por não terem emprego, por terem menos
dinheiro, por terem menos acesso à saúde, à justiça, à educação.
São protestos legítimos
e, lamentavelmente, cada vez mais necessários nos tempos que correm.
Mas o grave da
questão está em que, em tendo isso e mais uns trocos para os supérfluos, estará
tudo bem e na mesma. Continuarão, talvez, a colocar a cruzinha no boletim de
voto e a contar que os eleitos resolvam os seus problemas e giram a coisa pública,
preferencialmente sem “incomodarem” o cidadão comum.
Lutar por isto não
é lutar por uma Revolução. É lutar por uma Evolução, por uma continuidade, com
tudo o que isso implica: competitividade (interna ou com outros povos, pacífica
ou belicista); continuar a aceitar que uns podem comer de tudo e que outros só
de algumas coisas e de quando em vez; continuar a viver consumindo de tudo,
precise-se ou não disso; e continuar a aceitar que alguns decidam sobre a vida
de todos, na forma de co-existir, nas regras que lhe estão associadas, as mais
delas proibindo.
O que tenho ouvido
falar sobre “Democracia participativa” é exactamente aquilo que se não quer: o
levar as pessoas a juntarem-se e decidirem sobre elas e os seus, a serem
ouvidas nas decisões do colectivo, a serem, de facto, solidárias e
interventivas. Quer seja no governo central, quer seja no trabalho, quer seja
no bairro. Isso dá muito trabalho e implica pensar.
Uma revolução não
se anuncia nas internetes nem se faz ao fim-de-semana, entre o almoço e o
jantar. Uma revolução, mesmo que seja contra um sistema económico e financeiro
caduco e moribundo às nossas custas, faz-se agindo a cada momento, em casa, no
trabalho, nos cafés, na rua. A cada passo, sem anuncios e de surpresa. Agindo
efectivamente contra-corrente, impedindo, revertendo ou limitando aquilo que se
entende por errado e a corrigir.
As revoluções de
sofá, os protestos de faces-books e as manifestações de fim-de-semana são
exactamente aquilo que o poder instalado (político e económico) mais gostam: inconsequentes!
As pessoas
protestam, desabafam, gritam palavras de ordem e exibem cartazes mais ou menos
agressivos, mais ou menos humorísticos. Ponto final! Que tudo continua na
mesma, os créditos e descréditos bancários a fluírem, os mesmos a decidirem
sobre quem pode fazer o quê, o quanto é pago e o quanto é cobrado por cada hora
de trabalho e de imposto, e quanto fica nos bolsos dos que gerem bem mais que
uma empresa ou um país.
Em tempos houve em
Portugal uma expressão que acabou por ser rotulada de “maldita”: PREC. Processo
Revolucionário Em Curso.
Hoje vivemos o
PEEC: Processo Evolutivo Em Curso ou, para ser mais rigoroso, Processo Estacionário
Em curso.
Com o beneplácito de
uma classe dirigente (política ou económica) que aplaude estas manifestações e
que procura soluções para apaziguar os ânimos sem alterar coisa nenhuma.
Texto e imagem: by
me
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