Quando comecei a
dar aulas era totalmente inexperiente na função. Nem experiência nem teoria me
serviam de apoio e o convite que me foi feito baseou-se mais numa aposta que
numa certeza no resultado.
Consciente disso,
tentei usar de bom-senso, tentei recordar os professores, formadores e mestres
que havia tido e aproveitar o que de bom tinha acontecido, ao mesmo tempo que
evitava o que de mau tinha vivido. Gastei uma pipa de massa nuns quanto de
livros sobre pedagogia e métodos pedagógicos, tanto sobre formação profissional
como sobre educação regular e fui aprendendo com alguns erros que fui
cometendo.
Numa das primeiras
reuniões de avaliação em que estive presente, fui alvo de sorriso
condescendentes, alguns irónicos, por parte dos demais que ali estavam.
Ao fim de algum
tempo de falarmos genericamente sobre aqueles alunos que estavam na mediania e
que não necessitavam de cuidados especiais, surgiu o caso de um que se evidenciava
por um menor rendimento que os demais e debruçamo-nos sobre ele. Nessa altura
falei sobre um dos critérios de avaliação que eu usava, e sobre o qual não
tinha ainda ventilado ideias com os demais professores ou direcção: “atitude
profissional”.
Defendia eu – e defendo
– que numa escola profissional estar-se-á a preparar futuros profissionais e
que estes devem ter, para além dos conhecimentos teóricos e práticos, a atitude
que se espera de um profissional, como o manuseio dos utensílios, o cumprimento
de prazos e compromissos, o respeito pelo trabalho de grupo, a pontualidade, a
solidariedade…
Para além de serem
características necessárias a qualquer ser humano, espera-se que se o manifestem
no decurso do ofício e, se os alunos ou formandos não as tiverem devido à sua
juventude ou falta de formação pessoal, pode e deve a escola incutir-lhes esses
hábitos. Naturalmente que à medida das idades e das complexidades das tarefas e
conhecimentos adquiridos.
Fui mais ou menos “gozado”
naquela reunião, ainda que discretamente. Eu era o novato e havia que lhe dar
desconto. Apercebi-me disso mas mantive-me na minha, tanto na questão da
avaliação como nas práticas com os alunos. Junto com os conhecimentos teóricos
e práticos de óptica, química, electrónica, estética, semiótica, etc., fazia
muita questão neste ponto, usando dos meus métodos pouco ortodoxos.
Para minha surpresa,
no ano lectivo seguinte havia uma recomendação, não formal, por parte da direcção
da escola em considerar este aspecto nos conteúdos e critérios de avaliação. Não
fui muito bem olhado por alguns dos que por lá já estavam havia anos, mas a
coisa funcionou. Claro que não embandeirei em arco, mas fiquei um tudo ou nada
orgulhoso de ter conseguido passar a mensagem.
Mas o melhor
feed-back que tive foi, bem mais tarde, por parte de alguns alunos, que estavam
a meio do curso quando deixei a escola: que a minha atitude nesse aspecto (por
vezes merecedora da alcunha de “sargento”) estava lá a fazer falta, que o
respeito pelo ofício e pelo equipamento estava a ser menosprezado.
Obviamente que
lhes disse que, melhor que eu mesmo era serem eles, que disso se apercebiam, a passarem
o conceito e darem o exemplo, que não há gente insubstituível.
Pergunto-me hoje,
tal como então, se não fará todo o sentido exigirmos essa mesma “atitude
profissional” em torno de nós. Não apenas aos que lidam com câmaras, ou
martelos, ou formas de bolos, ou computadores, mas, e principalmente, àqueles
que escolhemos para gerir e decidir sobre aquilo que é nosso: o País. E, tal
como em escola, fazermos uma avaliação continua da sua prestação. Que bem mais
importante é que testes e exames.
Nunca reprovei um
aluno. Mas não posso dizer o mesmo da classe política e governativa que temos.
Texto e imagem: by
me
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