Não sei se compram
ou se vendem.
Estão ali, em
frente à estação do Rossio, ombro a ombro mas virados para lados opostos.
Com uns cartõezinhos
na mão, quase que se parecem com as publicitárias que vendem perfumes, ou
aqueloutros que nos põem na mão um cartão de um servidor de net/tv ou do mestre
qualquer coisa africano que resolve o mau-olhado e as questões amorosas.
Mas as rugas, o traje
bem convencional, o corte do cabelo e o brilho do dente de ouro (principalmente
este) denunciam que nada disso se trata.
Mas em nada
chamaria a atenção não fora que aqui se não vê: um pequeno cartaz pendurado no
peito, preso com pequenas molas metálicas, que anuncia que oferecem dinheiro
extra – 100 a 200 euros.
Passei uma vez,
passei outra e fiquei à distância a ver o que acontecia. Não falavam com ninguém,
apenas estavam ali na expectativa que alguém os abordasse, volta e meia falando
um com o outro. Como que, estando ali, não o estivessem.
Abordei-os. Que,
para além de satisfazer a minha curiosidade, sempre os faria aterrar em plena
baixa lisboeta. E perguntei-lhes o que estavam a vender.
A quase total ausência
de vocabulário português, ou de qualquer outro que eu dominasse, criou
dificuldades acrescidas, até porque, e para além de me entregarem o cartãozinho,
me disseram que telefonasse para os números ali escritos. À mão, que o resto
estava impresso e com erros de português.
Insisti e
disseram-me que só conseguiam falar em russo ou ucraniano. Foi então que lhes
arranquei o primeiro sorriso – e criei a ponte de comunicação – quando lhes
respondi que dessas línguas só sabia niet e vodka.
Lá explicaram, então
e perante a minha insistência, que se tratava de uma empresa de produtos
naturais e de saúde e que, se quisesse saber mais, haveria que telefonar ou
procurar na net.
Corrigi-lhes a
escrita errada (e abarbataram-se com o cartão corrigido, dando-me outro) e
consegui fazer o retrato.
Ficaram lá, ombro
direito com ombro direito, cartaz no peito e cartões na mão, tentando que alguém
os abordasse. Sem sucesso, não fora eu.
Não fosse a estória,
e poderiam ser dois turistas, dois executivos, dois médicos. São, com todo a
certeza, dois seres humanos que, desenraizados, tentam timidamente sobreviver.
Texto e imagem: by
me
Sem comentários:
Enviar um comentário