Foi há uns dias.
Vinha eu, todo
satisfeito, para Lisboa, cantando para dentro como um catraio pequeno: “Vais
fotografar em preto e branco! Vais fotografar em preto e branco!” e apensar no
meu “brinquedo novo”.
Sentado no
comboio, vinha também a fazer análises das relações de contraste existentes e
palpitando sobre em quantos EVs difeririam.E a relembrar se nesta ou naquela
situação necessitaria de controlo de contraste e como.
A dado passo,
decidi confirmar palpites e retirei do bolso o Spotmeter, com o qual
confirmava, ou não, o meu raciocínio.
Uma das
espreitadelas foi através da janela, do outro lado da coxia. Apontava aqui, um
nico mais abaixo, de volta para cima, concentrado nas luzes que via e nas
indicações do aparelho.
Por um momento baixei-o
e constato que a senhora que se encontrava no banco ao lado do qual eu estava a
medir estava muito incomodada e a comentar com o passageiro em frente algo do género
“O que é que aquele tem que me estar a filmar? Já não se pode estar sossegada!”
Fiquei
surpreendido, até porque inocente como um bebé recém-nascido, e preparava-me
para a tranquilizar quanto ao que tinha na mão quando fiquei ainda mais
surpreendido com o que ouvi da boca dele:
“Não se preocupe
que aquilo é só um visor, não filma nada.”
Que aquela mulher
de meia-idade e de ar modesto tenha confundido o meu fotómetro com uma câmara
de vídeo entendo. Elas existem hoje sob todas as formas e feitios, e eu estava
a apontar para o lado dela. Mais ainda, apesar de eu só usar um ângulo muito
estreito de visão, a objectiva parece ser tão abrangente quanto uma câmara de vídeo.
Agora que o
cavalheiro tenha percebido que não era de vídeo (ou de “filmar”) e tão só algo
através do qual eu estava espreitar, quem sabe até se identificando o que eu
fazia… isso deixou-me de boca aberta.
Tratei de guardar
o aparelhómetro no bolso e de sorrir para o homem, que mo retribuiu.
Quanto a ela,
tinha-me virado as costas para me esconder a cara, e nada lhe pude dizer ou
fazer. Espero que tenha acreditado no que lhe disseram e que tenha dormido
tranquila.
O Spotmeter, esse,
continua a viajar no bolso do meu colete, qual arma de saque rápido, sempre
pronto a confirmar ou desmentir os cálculos que vou fazendo para treinar o
olho. Com ou sem filtros de contraste.
Texto e imagem: by
me
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