terça-feira, 11 de outubro de 2011

Palpites e opiniões




Foi há uns dias.
Vinha eu, todo satisfeito, para Lisboa, cantando para dentro como um catraio pequeno: “Vais fotografar em preto e branco! Vais fotografar em preto e branco!” e apensar no meu “brinquedo novo”.
Sentado no comboio, vinha também a fazer análises das relações de contraste existentes e palpitando sobre em quantos EVs difeririam.E a relembrar se nesta ou naquela situação necessitaria de controlo de contraste e como.
A dado passo, decidi confirmar palpites e retirei do bolso o Spotmeter, com o qual confirmava, ou não, o meu raciocínio.
Uma das espreitadelas foi através da janela, do outro lado da coxia. Apontava aqui, um nico mais abaixo, de volta para cima, concentrado nas luzes que via e nas indicações do aparelho.
Por um momento baixei-o e constato que a senhora que se encontrava no banco ao lado do qual eu estava a medir estava muito incomodada e a comentar com o passageiro em frente algo do género “O que é que aquele tem que me estar a filmar? Já não se pode estar sossegada!”
Fiquei surpreendido, até porque inocente como um bebé recém-nascido, e preparava-me para a tranquilizar quanto ao que tinha na mão quando fiquei ainda mais surpreendido com o que ouvi da boca dele:
“Não se preocupe que aquilo é só um visor, não filma nada.”
Que aquela mulher de meia-idade e de ar modesto tenha confundido o meu fotómetro com uma câmara de vídeo entendo. Elas existem hoje sob todas as formas e feitios, e eu estava a apontar para o lado dela. Mais ainda, apesar de eu só usar um ângulo muito estreito de visão, a objectiva parece ser tão abrangente quanto uma câmara de vídeo.
Agora que o cavalheiro tenha percebido que não era de vídeo (ou de “filmar”) e tão só algo através do qual eu estava espreitar, quem sabe até se identificando o que eu fazia… isso deixou-me de boca aberta.
Tratei de guardar o aparelhómetro no bolso e de sorrir para o homem, que mo retribuiu.
Quanto a ela, tinha-me virado as costas para me esconder a cara, e nada lhe pude dizer ou fazer. Espero que tenha acreditado no que lhe disseram e que tenha dormido tranquila.
O Spotmeter, esse, continua a viajar no bolso do meu colete, qual arma de saque rápido, sempre pronto a confirmar ou desmentir os cálculos que vou fazendo para treinar o olho. Com ou sem filtros de contraste.

Texto e imagem: by me

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