Tinha chegado cedo
ao meu bairro, vindo do trabalho. Ainda faltava um bom pedaço para o autocarro
que me levaria até casa, mas não me apetecia trepar tudo aquilo a pé. Fiquei
por ali, à espera.
Ainda que com a
câmara na mochila, os meus olhos e atenção vagueavam em redor, vendo o que
havia para ver, e tentando decidir se valeria a pena fazer um registo – na
memória, nas palavras ou na luz. E dei com algo.
No passeio da
estação uma patrulha apeada da PSP. E caramba, pensei, se na escola de polícia
usassem fraldas, estes ainda cheirariam a tal. Que tudo neles era novo, desde
as idades ao fardamento, passando pelo que traziam pendurado no cinturão,
igualmente novinho em folha. A única coisa que não era nova era o rádio de
serviço – e via-se à distância. Mas aquele que o segurava tratava-o como se
“brinquedo novo” se tratasse.
Aliás, a “verdura”
da patrulha era tal que, estando um deles a tomar algo no café da estação,
passou um carro particular cujo condutor saudou com um gesto o que se mantinha
no passeio. Mais ainda, o carro inverteu a marcha numa rotunda um pouco adiante
e tornou a passar pela estação, desta feita junto ao passeio e em marcha lenta.
E, pela janela do passageiro, perguntou: “Então? Está tudo bem?” A resposta do
fardado ao paisano foi também lacónica: “Até agora sim!”
Passado um pouco
eu, que assistia a isto enquanto procurava algo onde usar a energia da bateria
da minha câmara, descubro um jogo de luz e cor que me pareceu apetitoso. E
tirei a mochila das costas para aceder ao seu conteúdo.
Pois o
patrulheiro, ao aperceber-se pelo canto do olho do meu movimento brusco de
alijar a carga, voltou-se qual Luky Luke, só faltando mesmo o sacar da arma.
Inconsequente este
seu gesto, para além do rubor que lhe tingiu o rosto e que procurou disfarçar
com um retomar a posição inicial. Manteve-se ele alerta para o eventual surgir
de um meliante ou criminoso, fui eu tratar de guardar a luz antes que fugisse.
Fico mesmo é sem
saber que lhe terão dito na escola de polícia e que discurso terá ouvido no
início do turno proferido pelo graduado de serviço, como nos habituámos a ver
na “Balada de Hill Street”. O susto, ninguém lho tirou.
Espero que a
tranquilidade do ofício venha mais depressa que o envelhecer do fardamento e
estojos para as “ferragens”.
Por mim, aprendi
que junto a agentes novatos se tira a mochila do lombo devagar e sob o seu
olhar atento. Não vá dar-se o caso de a sua reacção ser um pouco mais que
apenas o rodar sobre os calcanhares.
Texto e imagem: by
me
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