sábado, 8 de outubro de 2011

E depois da refeição...




É um dos indicadores que uso para referenciar a situação económica do país: a alteração de equilíbrio entre bolos e salgados nas pastelarias.
Com as poupanças forçadas (ou mesmo a ausência de dinheiro) os clientes optam, no lugar de tomarem um pequeno-almoço no café da rua ou perto do emprego, por usarem esses recursos em refeições leves (uma sandes, um salgado e uma bebida ou uma sopa).
Claro que este indicador implica conhecer os usos do estabelecimento e reparar em como essa alteração acontece.
O outro indicador é igualmente relevante: a quantidade de gente que pede um cigarro a um desconhecido. Na rua e em trânsito, na paragem do autocarro, na estação de caminho-de-ferro. Nos últimos tempos tem aumentado de forma assustadora, diria eu que para mais do quádruplo.
Mais indiciador do estado em que nos encontramos é o aspecto de quem o pede. Já não são apenas os ditos “sem abrigo” ou os “putos” com o seu “oh chefe!”. Nem se restringe ao sexo masculino.
Pedir um cigarro a um desconhecido é agora gesto banal e comum a todo o tipo de aspecto, roupa, idade e género.
Por mim, tenho uma regra: tenho que ser abordado de forma cordial e que me agrade. Até porque, queiram-no ou não, também o pago – o tabaco – e vícios cada um alimenta-os. Se bem que entenda o que seja estar sem tabaco e até sonhar com um cigarrito.
Este foi um dos casos positivos: abordagem simpática, nada altaneira nem auto-humilhante. Bem melhor ainda, reagiu bem a uma das minhas respostas-tipo: “Troco!”.
E o negócio é simples: dou um cigarro em troca de poder fazer uma fotografia.
Será, talvez, fazer negócio com a necessidade dos outros, mas se um cigarro satisfaz o vício, da fotografia não vem mal nenhum ao mundo.
Neste caso, é o Paulo, na estação do Rossio. E que, curiosamente, usava um telemóvel última geração, que custa bem mais que o meu somado com a câmara usada para o retrato.
Aqui fica e, já agora, tragam lá o bacalhau, que o grão já cá está.

Texto e imagem: by me

Sem comentários: