É um dos indicadores
que uso para referenciar a situação económica do país: a alteração de equilíbrio
entre bolos e salgados nas pastelarias.
Com as poupanças
forçadas (ou mesmo a ausência de dinheiro) os clientes optam, no lugar de
tomarem um pequeno-almoço no café da rua ou perto do emprego, por usarem esses
recursos em refeições leves (uma sandes, um salgado e uma bebida ou uma sopa).
Claro que este
indicador implica conhecer os usos do estabelecimento e reparar em como essa
alteração acontece.
O outro indicador é
igualmente relevante: a quantidade de gente que pede um cigarro a um
desconhecido. Na rua e em trânsito, na paragem do autocarro, na estação de
caminho-de-ferro. Nos últimos tempos tem aumentado de forma assustadora, diria
eu que para mais do quádruplo.
Mais indiciador do
estado em que nos encontramos é o aspecto de quem o pede. Já não são apenas os
ditos “sem abrigo” ou os “putos” com o seu “oh chefe!”. Nem se restringe ao
sexo masculino.
Pedir um cigarro a
um desconhecido é agora gesto banal e comum a todo o tipo de aspecto, roupa,
idade e género.
Por mim, tenho uma
regra: tenho que ser abordado de forma cordial e que me agrade. Até porque,
queiram-no ou não, também o pago – o tabaco – e vícios cada um alimenta-os. Se bem
que entenda o que seja estar sem tabaco e até sonhar com um cigarrito.
Este foi um dos
casos positivos: abordagem simpática, nada altaneira nem auto-humilhante. Bem
melhor ainda, reagiu bem a uma das minhas respostas-tipo: “Troco!”.
E o negócio é
simples: dou um cigarro em troca de poder fazer uma fotografia.
Será, talvez,
fazer negócio com a necessidade dos outros, mas se um cigarro satisfaz o vício,
da fotografia não vem mal nenhum ao mundo.
Neste caso, é o
Paulo, na estação do Rossio. E que, curiosamente, usava um telemóvel última
geração, que custa bem mais que o meu somado com a câmara usada para o retrato.
Aqui fica e, já
agora, tragam lá o bacalhau, que o grão já cá está.
Texto e imagem: by
me
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