domingo, 16 de outubro de 2011

Mudar e participar




Há muito para dizer nesta matéria.
Mas, ou porque estou cansado, ou porque sou preguiçoso, não me apetece esticar muito o texto.
Certo é que ontem vi muitos milhares manifestarem-se contra a precariedade, contra as medidas de austeridade, contra uma democracia representativa que, e cada vez mais, não representa os representados e as suas vontades, protestando contra o actual sistema económico e financeiro…
Mas também é certo que não havia cão nem gato que não tivesse um telemóvel, quantos de última geração e que custam mais que o subsídio de desemprego; certo é que vi mais de 1/5 dos presentes com uma ou mais câmaras fotográficas em punho e, valham-me todos os deuses, nunca tinha visto tantas Leicas por metro quadrado; certo é que vi muita roupa de marca, todas elas bem mais dispendiosas por unidade que o total das minhas próprias farpelas…
Boa parte destes protestos reflecte o tipo de existência que temos tido: vivermos atrelados às publicidades e aos consumos, corrermos atrás do que nos impingem os publicitários, enchermos os bolsos e as casas com coisas bem mais que desnecessárias mas sobre as quais nos dizem que somos menos que nada se não as possuirmos.
É curioso (ou triste) repararmos como somos o país com maior número de telemóveis per capita, sendo que há mesmo quem tenha mais de uma dezena, todos funcionais, e que vão sendo substituídos à medida que os fabricantes vão comercializando novos modelos que possuem mais um nico de inutilidades que nem sequer são usadas.
É igualmente curioso (ou triste) repararmos a quantidade assombrosa de embalagens de electrónica de consumo jogadas nos contentores de lixo em certas alturas do mês ou do ano. Há mesmo quem, vivendo em bairros de classe média-baixa e baixa como o meu, compre aparelhos de TV que custam bem mais que o seu salário. E nem eu, que dependo da TV para viver, me atrevo a ter disso em casa.
Também é curioso (ou triste) saber-se da quantidade de gente que abriu falência pessoal por via dos cartões de crédito, de entidades bancárias ou de grandes superfícies comerciais. Compra-se o que não faz falta com dinheiro que se não tem. E, em chegando a altura de pagar, “aqui del rei que não tenho!”
Não faz sentido vivermos num sistema em que os representantes nos não representam e ás nossas vontades; não faz sentido termos que pagar com o nosso trabalho e esforço os desgovernos actuais ou anteriores dos governantes; não faz sentido haver uns poucos a deitar comida fora e tantos a não ter de comer; não faz sentido termos destruído os nossos processos produtivos básicos – agricultura, pescas, mineração – e agora estarmos empenhados para além dos cabelos porque temos que o comprar lá fora.
Mas não faz igualmente sentido irmos na conversa do “Compre! Compre! Compre!” quando disso não precisamos ou quando isso não podemos comprar!
Não defendo uma existência espartana. Podemos e devemos viver bem melhor que isso. Mas defendo que saibamos diferenciar quem nos aconselha para nosso bem de quem nos aconselha para bem próprio. E, garantidamente, os publicitários e vendedores da banha-da-cobra bancária não são beneméritos ou frades franciscanos.
Se queremos mudar isto (e, caramba, isto precisa mesmo de mudar!) há que por a mão na consciência e ver até que ponto é cada um de nós também responsável pelo estado a que chegámos: aquilo que fizemos e não deveríamos ter feitos e aquilo que não fizemos e que deveríamos ter feito.
Consumir acima das nossas posses foi uma coisa. Deixar que fossem outros a decidir da nossa vida foi outra.
E se vamos mudar alguma coisa, VAMOS mudar, e não esperar que sejam os outros a fazê-lo!
Participando no processo e não apenas protestando!

Texto e imagem: by me

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