Há muito para
dizer nesta matéria.
Mas, ou porque
estou cansado, ou porque sou preguiçoso, não me apetece esticar muito o texto.
Certo é que ontem
vi muitos milhares manifestarem-se contra a precariedade, contra as medidas de
austeridade, contra uma democracia representativa que, e cada vez mais, não representa
os representados e as suas vontades, protestando contra o actual sistema
económico e financeiro…
Mas também é certo
que não havia cão nem gato que não tivesse um telemóvel, quantos de última
geração e que custam mais que o subsídio de desemprego; certo é que vi mais de
1/5 dos presentes com uma ou mais câmaras fotográficas em punho e, valham-me
todos os deuses, nunca tinha visto tantas Leicas por metro quadrado; certo é
que vi muita roupa de marca, todas elas bem mais dispendiosas por unidade que o
total das minhas próprias farpelas…
Boa parte destes
protestos reflecte o tipo de existência que temos tido: vivermos atrelados às
publicidades e aos consumos, corrermos atrás do que nos impingem os publicitários,
enchermos os bolsos e as casas com coisas bem mais que desnecessárias mas sobre
as quais nos dizem que somos menos que nada se não as possuirmos.
É curioso (ou
triste) repararmos como somos o país com maior número de telemóveis per capita,
sendo que há mesmo quem tenha mais de uma dezena, todos funcionais, e que vão
sendo substituídos à medida que os fabricantes vão comercializando novos
modelos que possuem mais um nico de inutilidades que nem sequer são usadas.
É igualmente
curioso (ou triste) repararmos a quantidade assombrosa de embalagens de
electrónica de consumo jogadas nos contentores de lixo em certas alturas do mês
ou do ano. Há mesmo quem, vivendo em bairros de classe média-baixa e baixa como
o meu, compre aparelhos de TV que custam bem mais que o seu salário. E nem eu,
que dependo da TV para viver, me atrevo a ter disso em casa.
Também é curioso
(ou triste) saber-se da quantidade de gente que abriu falência pessoal por via
dos cartões de crédito, de entidades bancárias ou de grandes superfícies
comerciais. Compra-se o que não faz falta com dinheiro que se não tem. E, em
chegando a altura de pagar, “aqui del rei que não tenho!”
Não faz sentido
vivermos num sistema em que os representantes nos não representam e ás nossas
vontades; não faz sentido termos que pagar com o nosso trabalho e esforço os
desgovernos actuais ou anteriores dos governantes; não faz sentido haver uns
poucos a deitar comida fora e tantos a não ter de comer; não faz sentido termos
destruído os nossos processos produtivos básicos – agricultura, pescas,
mineração – e agora estarmos empenhados para além dos cabelos porque temos que
o comprar lá fora.
Mas não faz
igualmente sentido irmos na conversa do “Compre! Compre! Compre!” quando disso
não precisamos ou quando isso não podemos comprar!
Não defendo uma
existência espartana. Podemos e devemos viver bem melhor que isso. Mas defendo
que saibamos diferenciar quem nos aconselha para nosso bem de quem nos
aconselha para bem próprio. E, garantidamente, os publicitários e vendedores da
banha-da-cobra bancária não são beneméritos ou frades franciscanos.
Se queremos mudar
isto (e, caramba, isto precisa mesmo de mudar!) há que por a mão na consciência
e ver até que ponto é cada um de nós também responsável pelo estado a que
chegámos: aquilo que fizemos e não deveríamos ter feitos e aquilo que não
fizemos e que deveríamos ter feito.
Consumir acima das
nossas posses foi uma coisa. Deixar que fossem outros a decidir da nossa vida
foi outra.
E se vamos mudar
alguma coisa, VAMOS mudar, e não esperar que sejam os outros a fazê-lo!
Participando no
processo e não apenas protestando!
Texto e imagem: by
me
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