sábado, 1 de outubro de 2011

Ciclos



Ver na rua alguém a usar uma Bronica (marca de câmara fotográficas de médio formato, para quem não sabe) é algo de incomum. Já são poucos os que usam película, menos ainda os que optam por este tipo de câmaras.
Ver uma Bronica com um back Polaroid (substituição do sítio onde fica guardada a película por um adaptador que permite o uso de fotografias instantâneas Polaroid, para quem não sabe) é ainda mais raro. Aliás, creio só ter tal visto uma vez na vida, e foi há muito, muito tempo.
Ver este conjunto a ser usado por uma jovem mestranda em Fotografia é mais raro ainda. Mas recomenda-se vivamente. As opções por outras tecnologias que não apenas o digital, e o tipo de imagens que permite fazer é uma boa forma de estudar e aprender. Não sei que projecto estava em causa, mas consigo imaginar que ande em torno do facto de o sistema Polaroid não permitir fazer cópias (ou permite, mas é muito complicado fazê-lo, para quem não sabe). Nos tempos que correm, fazer um trabalho fotográfico único, não manipulavel e não reprodutível, pode conduzir a dissertações particularmente interessantes.
O irónico da questão foi ter encontrado esta mocinha, mais o seu trabalho, mesmo em frente de uma montra que já foi, em tempos de antanho, uma das lojas de referência de fotografia de Lisboa. Possuía este espaço, na baixa da cidade, para fotografia de consumo, uma outra loja, na Rua das Pretas, onde se comercializava equipamento profissional, e um laboratório por alturas de São Sebastião de Pedreira que, para além da qualidade e fiabilidade que garantia, também permitia fazer impressões de grande formato, para exposições ou publicidade.
O futuro da fotografia a usar equipamento do passado frente a um local já falecido. Será irónico, mas também na fotografia existem ciclos que se completam.

(Nota técnica extra: esta câmara, que nada tem de automatismos, também não possui forma de medir a luz. E esta mocinha não usava um fotómetro (aparelho de medição de luz externo, para quem não sabe). Media ela a luz a “olhómetro”. Disse-mo ela, vi-o fazer e constatei que sabia o que estava a fazer. Conheço muitos que, com toda a parafernália dispendiosa que possuem, seriam incapazes de o fazer. Nota extra para esta fotógrafa!)

Texto e imagem: by me

2 comentários:

Débora Rodrigues disse...

O meu olhómetro por vezes falha, mas exprimentei (com filme) a regra do F16 e tenho a dizer que funciona!

JC Duarte disse...

E puseste, alguma vez, em dúvida isso?