quinta-feira, 13 de outubro de 2011

P'la janela




Acorda um tipo para ir trabalhar.
A bem do sono da vizinhança, consegue fazê-lo antes do coro de despertadores começar a sua função, o que também nos deixa com alguma tranquilidade.
Quando começa a tomar contacto com a realidade que o cerca, constata que está calor. Calor mesmo. Olha para o termómetro e este responde-lhe: 27,8º. Põe em dúvida e consulta um segundo que, cumprindo as leis de Murphy, lhe mostra uns sorridentes 27,4º graus.
“Bolas”, pensa, “está mesmo calor. Será que corre vento lá fora?”
E é quando vai espreitar p’la janela para verificar o agitar ou não das folhas nas árvores que acorda por completo. E se lembra porque motivo está tanto calor dentro de casa e porque tem que levantar os estores da cozinha, coisa que nunca fez na vida.
Estão em vias de entaipar um tipo dentro de casa, com os andaimes de pintura que lhe montaram na fachada. E ainda falta a rede exterior protectora. Previsivelmente e de acordo com o que sucedeu com as restantes três fachadas, talvez que p’lo Natal a coisa seja retirada.
Nos entretantos, vê-se um tipo na contingência de mater os estores fechados e, em estando ausente, as vidraças também. Que estas estruturas metálicas, com escadas montadas, são acessos fáceis e convidativos para sócios da CAPA (Confederação dos Amigos da Propriedade Alheia). Aliás, até já fizeram uma visita rápida e silenciosa a um vizinho, do outro lado do prédio. Mesmo durante o sono dos justos, criancinha incluída.
Resta-me esperar que o São Pedro colabore e que, não chorando cá p’ra estes lados, arrefeça os ânimos e os ares.
Que se não chover os trabalhos acabam mais depressa. E se arrefecer, os termómetros não insultam um tipo desta forma, logo p’las 3:30 da madrugada.

Texto e imagem: by me

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