quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma questão de princípio




Estávamos de conversa e, a dado passo, disse-me que deixara de pagar multas de trânsito. Pelo menos algumas. Que quando as deixam no limpa-vidros do carro olha para elas e deita-as fora.
“Eles que venham cobrar”, acrescentou.
Pormenorizando, contou que a sau rua tinha sido objecto de mudança de trânsito e que passara a ser proibido parar ou estacionar, como sempre fora. E que não tinha como estacionar perto de casa, como sempre fizera, desde há mais de vinte anos.
“Não me interessa! Não pago! Não é justo nem sequer faz sentido, que a rua é larga e dá para tudo. Eles, se quiserem, que me processem!”
Mas acrescentou, em tom mais baixo:
“Bem, se depois e por causa disso me suspenderem o reembolso do IRS, vou lá e pago tudo na hora, claro.”
No início pensei que, apesar de o conhecer há muito, sempre seria um homem de princípios, cá dos meus, que se bate por aquilo em que acredita.
Mas, ao ouvir a conclusão, acabei por reconhecer o meu interlocutor:
Um homem de princípios mas com fins rápidos. Bate-se por aquilo em que acredita, desde que não saia prejudicado. Muito menos prejudicado no bolso ou no conforto.
São tantos os que assim se comportam que se os armasse e equipasse bater-me-ia de igual para igual com os exércitos mais poderosos do mundo.

Texto e imagem: by me

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