sábado, 15 de outubro de 2011

Contrastes




Pois estava calor. Aliás, estava mesmo muito calor. Tanto calor que todos procuravam uma sombra, a céu aberto ou debaixo de telha.
Esta carrinha não era excepção. Ocupava um pedaço da vasta sombra provocada pela pala da estação do Oriente. Ou isso ou os funcionários desta Biblioteca itinerante da Câmara Municipal de Lisboa morreriam estufados no seu interior.
Com as portas abertas, não só por via do calor mas também para publicitarem o que ali faziam, estavam solitários com os livros que cedem e os computadores que facilitam. A pequena mesinha com cadeiras no exterior, com revistas e jornais também não era atractivos para os passantes, que os poucos que isto olhavam nem abrandavam o passo.
Por via do calor ou das pressas em chegar ou partir, que raramente se está com vagar numa estação de caminho-de-ferro. Ou num centro comercial, que é o que aqui lhe serve de fundo.
E lá dentro, apesar do calor, de se estar a meio do mês e de um dia de semana, a confusão era alguma. A fila de jovens adolescentes, algumas ainda nem isso, era bem grande, que a sombra e o ar condicionado proporcionava algum conforto.
Esperavam umas horas, valentes nalguns casos, para obterem um rabisco (vulgo autógrafo) de um cantor de moda juvenil – Joe Jonas. Nunca ouvira falar dele até este dia, e não creio que volte a ouvir, confesso. Excepto para satisfazer a minha curiosidade sobre o que faz ficar vazia uma carrinha que cede, gratuitamente, livros e acesso à internete.
Que é coisa que me faz ficar triste, bem triste: livros solitários, mesmo que a custo zero.

Se virdes a carrinha da Biblioteca Itinerante, parai.
Certamente que ali encontrareis algo que vos cative (ou, se o pedirdes, vo lo arranjarão p’la certa). E se não for um livro que vos atraia, prestai atenção a um par de olhos que ali trabalha. Dos mais bonitos e simpáticos que tenho encontrado. Bem o oposto do estereótipo de bibliotecária, mesmo que itinerante.

Texto e imagem: by me

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