A história é
velha. Só não é mais velha que eu porque eu mesmo nela participei.
Aquelas centenas
largas de jovens viviam um momento único na história: pela primeira vez
partilhavam parte do seu dia, no liceu, com gente do sexo oposto. Que o regime,
caído pouco tempo antes, o proibia à revelia de tudo quanto é sensato.
Mas essa nova vivência
tinha alguns contras. Um deles foi o facto de, talvez devido à novidade e ao
excesso de hormonas desenfreadas, o mobiliário escolar estar uma desgraça. A
destruição de carteiras, ou mesas e cadeiras, era de tal forma que era normal
ver dois rabos partilharem o mesmo assento nas salas de aula.
As reclamações de
pouco serviam, que quase tudo estava em igual situação, sistemas de manutenção
incluídos. Que todos andávamos a aprender a viver em liberdade e democracia.
Democracia interventiva, já agora.
No entanto, não
nos deixámos atrapalhar pela ineficácia das instituições: organizámo-nos,
sugerimos e, sob a supervisão de um continuo, passámos parte das férias da Páscoa
no sótão do liceu (Rainha Dona Leonor, em Lisboa) a serrar, pregar, aparafusar
o era possível de recuperar.
Não havia máquinas
eléctricas nem as nossas mãos de estudantes estavam habituadas a tais
trabalhos. Mas exibíamos as bolhas assim feitas com o orgulho de sabermos que o
futuro estava nas nossas mãos e que o estávamos a construir.
Hoje, nas mesmas
circunstâncias, esse material escolar seria jogado fora e feito concurso público
para aquisição de novo. E os alunos continuariam a roçar os rabos uns nos
outros até que alguém, sem rosto mas com títulos e carro às ordens,
solucionasse a situação.
Que a atitude
generalizada hoje é a de esperar que alguém resolva os nossos problemas, no
lugar de arregaçar as mangas e fazê-lo. Em prol de si mesmo e da sociedade.
Grave mesmo é isto
acontecer entre adultos (naturalmente acomodados) e entre jovens que deveriam
transpirar energia e iniciativa.
Cada época tem os
seus aspectos positivos e negativos, não havendo uma bem melhor que qualquer
outra. Mas custa-me assistir a que aquilo para que se mais olha hoje seja o próprio
umbigo, deixando para os outros as responsabilidades e soluções.
Texto e imagem: by
me
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