domingo, 3 de julho de 2011
Pincéis e outros
Confesso que aqui em casa tenho diversos tipos de pincéis e escovas.
Para além das de higiene pessoal, bem como as dos sapatos e roupa, para não falar nas óbvias da limpeza doméstica, tenha bastantes outras.
Mas de todas essas outras, estas duas são as que uso com mais frequência.
Limpar as ópticas, limpar tampas de objectivas, limpar as objectivas por fora, limpar os corpos das câmaras, limpar o interior das câmaras (neste caso uso outras bem mais especiais), são mesmo os pincéis e escovas de fotografia que mais uso.
Claro que tenho trinchas, pincéis finos e médios, escovas de dentes de várias durezas, na caixa da ferramenta tenho escovas de arame, manuais e rotativas… o que por aqui não vai faltando são escovas e pincéis.
Mas aquelas pelas quais tenho maior estima e cuidado são estes dois.
No entanto, nunca pensei que pudesse ser identificado como uma pessoa que passa a vida ligado a pincéis e trinchas. Nunca isso me passaria pela cabeça! Apesar disso, houve quem tal pensasse.
Um destes dias fui abordado no café por uma casal vizinho no prédio. Para além da saudação trivial e das conversas paravas de elevador, nunca tínhamos falado a sério sobre o que quer que fosse. Mas desta vez…
Desta vez, já com o saquito de pão na mão, perguntam-me se seria pintor ou estaria relacionado com pintura. “Não é pintura de paredes”, esclareceram eles, “É mesmo pintura de quadros!”
E lá lhes expliquei que, de pintura, gosto de ver as paredes limpas e os quadros nelas pendurados, mas mais nada disso percebia.
Contaram-me então que um seu parente havia comprado um quadro, num leilão, e que tinha a firme convicção de que seria de um Mestre espanhol. Já o haviam posto em análise junto de entendidos e todos eles o haviam negado. No entanto, não havia quem lhes tirasse isso da cabeça.
E ficámos um pedaço a falar do assunto, como se eu mesmo fosse um entendido. Acrescentaram que as análises às tintas tinham confirmado a época, mas na ausência de assinatura…
Sugeri-lhes que comparassem a forma como as tintas estavam aplicadas, de que forma a luz estará trabalhada, se os jogos de perspectiva seriam idênticos aos do Mestre… E que, eventualmente e visto ser em muito semelhante a um outro, esse sim, desse Mestre e que estará no Prado, tratar-se-ia de um trabalho de um dos discípulos do Mestre, que frequentemente praticavam baseando-se nos trabalhos dele.
Lá nos separámos no elevador, que o piso deles é mais acima. Com uns sorrisos de circunstância e eles ainda convencidos que teriam uma obra fabulosa e desconhecida em casa.
Pergunto-me eu se, no lugar de costumar andar com uma câmara fotográfica pendurada no ombro, andasse com uma palete multicolorida na mão e uns pincéis a sair-me do bolso da camisa, pensariam eles que eu fosse fotógrafo.
Texto e imagem: by me
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário