sábado, 30 de julho de 2011

BICs



Será todo o revivalismo do mundo e mais um par de botas.
Certo é que consegui encontrar aquilo que tem arredado da minha vista mas não da minha memória: as velhas canetas BIC Laranja.
As Cristal, ditas de escrita normal, nunca saíram do mercado, vendendo-se às mãos cheias, quase que como papo-secos, para efeitos de escritórios e escolares. Agora as Laranja, ditas de escrita fina, não as tenho visto.
Avisou-me um companheiro de trabalho que, lá para as bandas dele, num supermercado, as haveria à venda. Tenho-as procurado noutras lojas da mesma marca e coisa nenhuma. Ficou-lhe a encomenda feita.
Mas tropeço agora, numa papelaria das antigas, com elas à venda.
Entrei por via de cadernos cá à minha maneira, e não havia. Perguntei por mais duas ou três coisas, também daquelas que eu quero e não das que os fabricantes nos impingem, e também não havia.
Havia era a bela da caneta, que a funcionária foi buscar com um sorriso de “afinal sempre tenho algo que ele compra” estampado na cara.
Mas, mal lhe peguei, caramba: ou a memória me atraiçoa ou estou confrontado com uma legítima falsificação!
É que não me recordo, de forma alguma, de as velhas BIC Laranja terem a ponta azulada ou de qualquer outra cor que não fosse o laranja. Dou de barato a tampa estar furada na ponta. Suponho que razões técnicas existirão para tal. Agora a ponta azulada…
Pois se eu até era chamado, em tempos escolares, de “papelígrafo”, de tanto mascar pedacinhos de papel, rasgados das últimas páginas dos cadernos, para depois assim transformados em pasta húmida, os arremessar pelos tubos das BIC. E era coisa de três tempos: A tampinha pequena da outra ponta do tubo já não existia; com os dentes retirava-se a carga, punha-se o tubo à boca, “carregava-se” de munição, soprava-se pela zarabatana e, bem rápido para que não fosse identificado, a carga regressava ao tubo.
Dê as voltas que der à memória, não me recordo nem um pouco de a ponta ser azul.
Mais curioso ainda, as que agora se vendem têm tamanhos ligeiramente diferentes: as Cristal maiorzinhas um nico que as Laranja. E isso, desculpem lá, mas não era assim. Então eu iria lá esquecer de as ter todas do mesmo tamanho no copo da mesa onde estudava em casa. Ou no estojo que levava para a escola.
A BIC Laranja e a BIC Cristal estão aí, para quem queira recordar e brincar com elas. Agora que a Laranja já não é o que era, lá isso não. Ou a minha memória já não é o que era, o que também não é impossível.

Texto e imagem: by me

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