quarta-feira, 13 de julho de 2011

Você disse imortal?



Atirou-me um colega, ontem, com uma notícia lida não sei onde sobre o facto de os cientistas previrem mais cinquenta anos para que a questão do envelhecimento e da imortalidade fique resolvida, através do impedimento ao envelhecimento das células.
Pondo de parte a veracidade da notícia ou do até que ponto a ciência o poderá fazer, de imediato lhe disse que não, que desejava que tal nunca fosse alcançado. E por vários motivos, bem diferentes entre si.
A primeira questão que de imediato se põe é o da população, ou do excesso de população. Com as pessoas a não envelhecerem e a não morrerem e com crianças a nascerem a um ritmo normal, a breve trecho o planeta deixaria de ter capacidade de sustentar todos. Seríamos como que uma praga, que aliás já somos ainda que o neguemos. A alternativa seria colonizar outros planetas, dentro ou fora do sistema solar, mas isso seria tão mau ou pior que actual situação. Que o bicho-homem não tem um passado famoso, no tocante a bem tratar o ambiente.
Claro que cedo alguns se aperceberiam da coisa, e logo surgiria o segundo problema: para evitar a saturação do planeta, só alguns teriam o direito (ou a obrigação) de viver eternamente. O que iria criar novas elites, para além das já existentes, a segregação pela idade a somar à segregação pela cor da pele, pela crença em ideais ou filosofias, pelas capacidades físicas… E ficariam uns quantos por cá, ad eternum, enquanto todos os outros nasceriam e morreriam ao serviço dos eleitos.
O terceiro problema seria o da idiotização do género humano. Ele já é estúpido, mas pioraria. Que a evolução depende dos novos, das novas formas de pensar e sonhar. Que os mais antigos, acomodados que ficam ainda antes de a idade lhes tolher os movimentos e vigor, tornam-se conservadores, ciosos defensores das suas próprias ideias e conceitos e opositores ferozes ao que de novo surge e que ao isso possa por em causa. É em morrendo ou sendo afastados os mais velhos e as velhas ideias que a civilização avança. Uma civilização idosa em que os nascimentos fossem, por exemplo, controlados em função da quantidade de mortes ocorridas, estaria filosófica e tecnologicamente condenada ao bolor e a uma agonia prolongada.
Uma outra questão, mais teológica que prática, seria a eventual comparação com deus (seja ele qual for) que alguns quereriam fazer. Que com a imortalidade atingida, com a possibilidade de dar ou tirar vida ao alcance de um gesto ou decisão, isto seria interpretado como capacidades divinas. Imagine-se o que seria este planeta partilhado por tantos deuses. E os conflitos que daí adviriam, com cada um a intitular-se o único e verdadeiro deus, e todos os outros deuses a rirem-se e a contestá-lo.
Sobra pelo menos mais um problema, desta feita muito pessoal: eu não me aturaria tanto tempo. O meu mau feitio, já proverbial mas a prazo, faz com que muitas vezes fique furioso comigo mesmo. E eu não quereria viver tanto tempo a aturar tal tipo. Seria pior que o pior dos infernos.
Claro que haveria algumas grandes vantagens em tornar verdadeiras as promessas de eternidade.
À uma, a possibilidade de se ser feliz para sempre junto de quem se ama. Caramba, como isso seria bom!
E, logo em seguida, haveria a vantagem do acumular a sabedoria por via da experiência e idade, que é algo que é dado de barato e desprezado nos tempos que correm.
Mas tudo somado, o saldo é negativo. Pelo que espero que os cientistas falhem nesta investigação e nos deixem morrer em paz.
A minhas duas únicas tristezas, quando encontrar mais uma vez a morte de frente e em sabendo que é a última, é ter a certeza de não mais estar com quem eu gosto e do quanto ficará por aprender e descobrir. Mas sendo que me vou esforçando a cada dia que passa, darei por bem empregue o tempo que tiver para tal.
Até porque, e como diria alguém que conheço, “Vive cada dia como se fosse o último. Um dia acertas!”

Texto e imagem: by me

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