domingo, 24 de julho de 2011
O meu tio
O meu tio Artur era uma figura impar.
A sua vida daria um belo romance de amor. Talvez um destes dias aqui volte a falar nele.
Tinha ele uma atitude extremamente positiva para com quem o cercava.
Quando o visitava, havia sempre uma caixa enooooorme de chocolates suíços, onde a minha dúvida era na escolha por entre aquelas fotografias de paisagens alpinas que nos deliciavam os olhos e a boca.
Possuía uma agenda bem grande, onde anotava os aniversários de todas as pessoas que conhecia, parentes ou não. Diariamente, antes de sair de casa, consultava-a, tomava notas e passava pelos correios afim de enviar aos aniversariantes um telegrama de parabéns. Mesmo que já não visse ou falasse com a pessoa há muitos anos.
Era meu tio-avô, pelo que, quando o conheci tinha já uma idade provecta.
Uma ocasião, era eu catraio miúdo, fui lá casa com minha mãe.
Ele estava bastante doente, já acamado. Quis a minha mãe fazer-lhe uma fotografia.
A dobra do lençol foi arranjada, assim como a almofada, a gola do pijama e os alvos cabelos.
Junto aos pés da cama, minha mãe levou a câmara à cara e enquadrou. No instante imediatamente antes do disparo, meu tio Artur levantou a mão direita e encenou um adeus, sorrindo. Que ficou na imagem latente e, mais tarde, positivado.
Foi a sua última fotografia. Faleceu no dia seguinte.
Aquele homem, com uma vida riquíssima de peripécias e amigos, sabia que estava a chegar ao fim desta sua viagem. E quis mandar uma mensagem de despedida para todos.
Através da magia da fotografia quis despedir-se sorrindo, mesmo que não viessem a ver o seu adeus.
Ainda hoje revejo na memória o fazer dessa imagem. Que não possuo, mas que foi uma das minhas chaves para este mundo maravilhoso da comunicação.
Obrigado tio Artur!
Texto e imagem: by me
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