sexta-feira, 1 de julho de 2011

Gostar/Não gostar



A língua portuguesa tem coisas com graça. Melhor dizendo, das línguas que conheço, todas sofrem deste mesmo problema. Refiro-me a como os afectos são nomeados.
Dizemos “gosto” quando os afectos são positivos e “não gosto” quando os afectos são negativos.
No entanto…
Dizer “não gosto” deveria significar “não ter afectos positivos”. Mas não os ter não implica, por si mesmo, ter afectos negativos. Apenas que senão os tem positivos.
Quando eu digo “Não gosto de pimentos” estou mesmo a querer dizer que me incomoda de sobremaneira o seu paladar, o seu aroma, mesmo a sua proximidade. Daí que, em regra, evite pedir espetadas, de carne ou peixe, já que as costumam confeccionar com pimentos. Eu odeio pimentos, pelo que a expressão “não gosto” é inadequada.
Mas também poderei dizer “não gosto de viajar de comboio com a janela tapada pela cortina”. O que eu quererei dizer com isto é que, não sendo do meu agrado, não é coisa que me seja insuportável. Consigo viajar dessa forma, ainda que não seja a minha preferida.
Na prática, dizer “não gosto” tem exactamente o mesmo significado de “não odeio”. É uma expressão neutra, inconsequente, que não demonstra afectos nem desafectos.
Pena é que façamos tantas confusões na forma como comunicamos!

Texto e imagem: by me

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