quarta-feira, 13 de julho de 2011

Nem sempre cai em saco roto!



Há uns anos tive que ir ao atendimento de urgência aqui do bairro, na altura chamado de “SAP”.
Quando me inscrevia, estava outra pessoa a ser atendida no balcão. Melhor dizendo, a não ser atendida, que estavam a recusar a sua inscrição por não poder comprovar a sua residência. O homem, de origem africana, bem que dizia, no meio da sua expressão de sofrimento, que se tinha mudado aqui para o bairro havia duas semanas e que ainda não possuía nenhum dos comprovativos que aquela mal-encarada senhora lhe estava a pedir.
A funcionária rematou a conversa com um “Se nós temos que os ter, vocês também!”
Tentei intervir e fui enxotado como se tivesse a mesma cor de pele e a mesma ausência de documentos. Mais ainda, a dita fulana recusou-se a identificar-se, como manda a lei e ficou no ar uma oculta ameaça de eu ser preterido ali, na sala de espera até que lhe apetecesse fazer seguir o meu processo.
Calei-me, mas não para sempre. Esperei pela minha vez, fui atendido pelo médico (coisa quase sem importância) e, em saindo, pedi o livro de reclamações.
Como é habitual nestas circunstâncias, tentaram não mo dar. Mas a minha decisão estava tomada e nem um muro de betão me desviaria. A única cedência que fiz foi a de o usar apenas no dia seguinte, em falando com o director do centro de saúde.
No dia seguinte lá estava, falei com quem estava combinado, uma conversa afável, e escrevi o que tinha a escrever.
Passados tempos, dois meses talvez, recebo duas cartas.
Uma da então ministra da saúde, uma carta pró-forma, em que era informado que iriam dar a melhor atenção ao meu caso.
A outra, do director do centro de saúde, informando-me que a funcionária em questão tinha sido afastada do atendimento ao público.

Aquele homem, que estava notoriamente em sofrimento, não foi ali atendido. Mas neste posto de urgências de saúde, a segregação por condição física, cor de pele ou crença tornou-se mais difícil de por em prática.

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