quarta-feira, 27 de julho de 2011
Acreditar
A existência do Homem, dizem os especialistas, divide-se em duas grandes épocas: pré-história e história. A fronteira, dizem ainda eles, é a invenção da escrita.
É um ponto fulcral, então e agora. Permitiu-lhes a transmissão do conhecimento de geração em geração sem a já clássica situação “Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto!” E permite-nos saber hoje o que pensavam os antigos.
Ideográfica ou fonética, a escrita revolucionou e existência humana.
Milhares de anos passados, na Alemanha e atribuído a Gutemberg (há quem o conteste), mecanizou-se a escrita. Com um esforço limitado e em pouco tempo, passou a ser possível um número grande de cópias fiéis ao original que, irradiando da tipografia, poderiam espalhar-se pelo mundo.
As comunidades aproximaram-se no conhecimento e, devido à imprensa (mas não só), o acesso ao mundo das letras tornou-se quase universal. A taxa de analfabetismo tem vindo a reduzir gradualmente, em particular nos últimos 50 anos.
Mas, há cem anos, mais coisa menos coisa, um outro invento vital na civilização surgiu: a transmissão via rádio.
A possibilidade de transmitir ideias sem recorrer a um portador, e quase instantaneamente, encurtou as distâncias inter-comunitárias. As fronteiras físicas à passagem do pensamento foram derrubadas e a tecnologia foi simplificando os processos.
Mas a democratização do conhecimento, agora com as nóveis tecnologias de informação, tem um problema gravíssimo: a credibilidade.
Quando vejo uma pintura hieroglífica ou uma gravura cuneiforme, sei que quem as escreveu era um lente na sua época. Porque poucos sabiam ler ou escrever, quem o fazia tinha as certezas e as verdades da época e o cuidado de as deixar explícitas. Ainda que codificadas pelos mistérios e esoterismos que a religião pudesse impor.
Ao ler um livro impresso, identifico, sem grandes problemas, o autor, a tipografia e o editor, atribuindo-lhes a importância que entendo. Na poesia, na técnica, na filosofia. Gosto deste autor, exaspero-me com aqueloutro e, de uma forma ou outra, vou criando as minhas próprias referencias.
Com a transmissão à distância a coisa é mais complicada. Giro ou primo um botão no meio do aparelho receptor e tenho tudo quanto é emitido ao meu alcance. Na rádio, na TV, no telemóvel, no computador.
É todo um universo de ideias que se encontra, em boa parte anónimo. Posso aceitar esta ou aquela estação ou site, mas não conheço os intervenientes, os autores do que é emitido. E mesmo estes estão ao serviço de uma empresa ou empreendimento anónimo cujos objectivos ou ideologias me podem escapar.
Saberei eu avaliar a verdade ou a justeza do que ali é dito, me é dito? Poderei controlar o efeito que essa comunicação pode ter nos meus comportamentos e contra minha vontade?
Recentemente foi criada uma empresa transnacional na América latina para transmitir informação ao estilo da CNN. E à Al-Jazira. E ainda a outras, cada uma no seu universo cultural e geográfico.
A guerra electrónica de sobreposição de sinais (que já vem da guerra fria), vai acontecendo com o bloqueio de frequências e a informação contraditória.
O mesmo tema, tratado por estas três difusoras, tem abordagens tão diferente que não creio que alguma delas seja completa, verdadeira ou isenta.
Assim, quando por cá acedemos a uma estação de TV ou rádio, que vão beber nas agências internacionais o “néctar informativo”, mais não estamos que a ser moldados de acordo com os interesses não confessos de um ou vários grupos económico-politico-culturais.
E esta manipulação segue-se, dia após dia, noticiário após noticiário, segundo após segundo.
O inglês, o francês, o castelhano e o português já eu domino. Estou a pensar, muito seriamente, em ir aprender russo, chinês, árabe e indiano.
E, depois disso, continuar tão ou mais baralhado que antes sobre o que me cerca.
Afinal, em quem podemos ou devemos acreditar?
Você sabe?
Texto e imagem: by me
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