quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Pão com manteiga



Quando ontem entrei, p’ra comprar o meu pão casqueiro, apanhei a conversa por metade. Dizia quem estava atrás do balcão p’ra quem estava à porta, já de saída:
“Não dá! Saio às duas, vou arranjar as unhas e depois… avião.”
A interlocutora disse qualquer coisa como “Ah, é pena!” e seguiu. E eu fiquei a olhar p’ra minha conhecida, sempre portadora de um sorriso de orelha a orelha. Atirei-lhe, meio cusco:
“Vai de férias?”
“Vou, vou à minha terra ver a família. Tenho lá uma sobrinha que ainda não conheço… E já lá não vou há três anos.”
Saiba-se que por “minha terra” se deve ler “Ucrânia”.
Desejei-lhe boa viagem e saí com o casqueiro no saco, acabado de fazer, p’ro almoço e p’ros dias seguintes.
Fiquei a pensar na conversa, que nada tem de especial.
Foram já várias as senhoras oriundas destas e de outras terras distantes que ali trabalharam e que regressaram p’las férias. Uma delas em definitivo, se bem recordo. Tal como nada tem de especial o passarem anos antes de o poderem fazer. Afinal, sempre são muito quilómetros, de avião ou por terra, não sendo barata a viagem. E os motivos porque cá estão prendem-se com dinheiro, não sendo o salário que auferem dos mais gordos. Bem p’lo contrário.
O que realmente me prendeu a atenção foi o detalhe do que haveria p’ra fazer, mesmo antes de embarcar: o arranjar das unhas. Preocupação bem feminina, por certo. Mas igualmente indicadora da relação desta senhora, e seus familiares, com os seus conterrâneos. Que não quererão mostrar por lá, p’lo aspecto que exibirem, as agruras que por cá passam. Que, nalguns casos, nada têm de pequenas.

No momento em que escrevo estas linhas e como mais um pedaço do último pão que me vendeu, já ela lá estará e, por via dos fusos horários, já terá pequeno-almoçado. Que p’la certa é diferente deste meu casqueiro e que terá sido, talvez, feito por um vizinho ou familiar.
Boas férias!


 By me

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