Quando
ontem entrei, p’ra comprar o meu pão casqueiro, apanhei a conversa por metade.
Dizia quem estava atrás do balcão p’ra quem estava à porta, já de saída:
“Não
dá! Saio às duas, vou arranjar as unhas e depois… avião.”
A
interlocutora disse qualquer coisa como “Ah, é pena!” e seguiu. E eu fiquei a
olhar p’ra minha conhecida, sempre portadora de um sorriso de orelha a orelha.
Atirei-lhe, meio cusco:
“Vai
de férias?”
“Vou,
vou à minha terra ver a família. Tenho lá uma sobrinha que ainda não conheço… E
já lá não vou há três anos.”
Saiba-se
que por “minha terra” se deve ler “Ucrânia”.
Desejei-lhe
boa viagem e saí com o casqueiro no saco, acabado de fazer, p’ro almoço e p’ros
dias seguintes.
Fiquei
a pensar na conversa, que nada tem de especial.
Foram
já várias as senhoras oriundas destas e de outras terras distantes que ali
trabalharam e que regressaram p’las férias. Uma delas em definitivo, se bem
recordo. Tal como nada tem de especial o passarem anos antes de o poderem
fazer. Afinal, sempre são muito quilómetros, de avião ou por terra, não sendo
barata a viagem. E os motivos porque cá estão prendem-se com dinheiro, não
sendo o salário que auferem dos mais gordos. Bem p’lo contrário.
O
que realmente me prendeu a atenção foi o detalhe do que haveria p’ra fazer,
mesmo antes de embarcar: o arranjar das unhas. Preocupação bem feminina, por
certo. Mas igualmente indicadora da relação desta senhora, e seus familiares,
com os seus conterrâneos. Que não quererão mostrar por lá, p’lo aspecto que
exibirem, as agruras que por cá passam. Que, nalguns casos, nada têm de
pequenas.
No
momento em que escrevo estas linhas e como mais um pedaço do último pão que me
vendeu, já ela lá estará e, por via dos fusos horários, já terá
pequeno-almoçado. Que p’la certa é diferente deste meu casqueiro e que terá
sido, talvez, feito por um vizinho ou familiar.
Boas
férias!
By me
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