A
primeira vez que tive contacto próximo com o assunto foi há dois ou três anos.
Num evento sobre fotografia, vários colóquios. E num deles, o orador alertava
os presentes sobre a questão, baseado nas suas próprias conclusões e
experiência enquanto luminotécnico e director de luz em espectáculos.
O
assunto e as consequências em causa era para mim novidade mas não lhe dei a
devida atenção. O tom meio dramático dado por quem discursava fez-me
classificá-lo como tema interessante mas não o suficiente para sobre ele me
debruçar posteriormente. Erro meu.
A
segunda vez que me deparei com o assunto foi bem mais grave.
O
meu ofício implica ter uma razoável, boa mesmo, avaliação de cores e do seu
equilíbrio. E saber colocar algo como realmente neutro, sem dominantes
cromáticas, quando for esse o caso. Lido com isso electronicamente, ajustando
nos diversos patamares da curva de resposta das três cores básicas, vermelho,
verde e azul, e, com elas, as respectivas complementares: amarelo, ciano e
magenta.
Um
dia uma colega chama a minha atenção para o facto de eu estar a ter uma
dominante verde no meu trabalho. Fiquei em pânico. Não estava a dar por isso
nem tal deveria acontecer.
Isto,
junto com um outro episódio de iluminação doméstica para criar ambientes
satisfatórios, levou-me a tirar as teimas. Com rigor e recurso a aparelho de
medida: um termocolorímetro que também aquilata da relação verde/magenta.
A
dominante cromática em minha casa era VERDE. A maioria das lâmpadas
economizadoras que aqui tinha tinham essa dominante. Tratavam-se de lâmpadas
ditas “tom quente”, em que o amarelo/verde domina. Troquei-as por lâmpadas
igualmente economizadoras mas ditas “luz de dia” e essa dominante quase
desapareceu. Quase, mas não totalmente. Claro que é uma luz mais azulada que as
outras, mais “fria”, mas mais próxima do natural. E resolvi a minha questão
laboral.
Esta
questão fez-me recordar o colóquio a que assisti. Nele, o orador alertava para
o facto de a espécie humana sempre ter vivido sob influência de luz natural
que, tendo todas as cores que conhecemos do arco-íris, varia ao longo do dia
apenas nos azuis e vermelhos, mantendo um equilíbrio mais ou menos constante
nas outras cores (ou frequências). Mesmo a iluminação artificial tem sido,
desde sempre, baseada na queima de algo: madeira, azeite, petróleo. Incluindo
as lâmpadas de incandescência, que queimam o filamento. E, ao queimar algo, tal
como acontece com o sol, as variações de intensidade na queima fazem variações
na gama dos azuis e vermelhos, mantendo as restantes frequências (ou cores)
equilibradas.
Quando
entrámos na campo da iluminação artificial baseada na ionização de gases
(sódios, mercúrios, xénons, argons e outros) com acontece na iluminação das
vias públicas, monumentos, áreas fabris e, agora, domésticas, com menor consumo
energético para um equivalente rendimento lúmico, com menores perdas por calor,
achámos que tínhamos encontrado a fórmula ideal de preservar o ambiente. Menos
combustível fóssil, menos aquecimento global, mais ecologia.
O
problema levanta-se em nós mesmos!
O
cérebro interpreta uma superfície branca como sendo branca, adaptando a
informação que recebe da retina em função do conhecimento prévio que tem da
situação. Desde que a dominante cromática não seja particularmente notória,
adaptamo-nos. O mesmo papel branco é visto como tal sob a luz do sol, sob a luz
de uma lâmpada de filamento, à luz de uma luz fluorescente ou com as lâmpadas
economizadores, “quente” ou “luz de dia”. O problema está em que as últimas
três têm dominantes verdes/amarelo de que não nos apercebemos que não por
comparação próxima.
E
quando passamos horas, dias, meses, anos, vendo o que nos cerca sob essa
iluminação alteramos os nossos próprios padrões de cor. E quando encontramos um
“branco” que não tenha essa dominante temos tendência em alterá-lo para que
esteja de acordo com os padrões que o cérebro fixou.
Estamos,
em consequência das tecnologias contemporâneas, a alterar a nossa capacidade de
ver o mundo que nos cerca!
Acredito
que a grande maioria dos que lerem estas linhas não se aperceba de tal. Tal
como a grande maioria não terá um termocolorímetro para fazer as medições
necessárias.
Mas
tem essa mesma maioria uma ferramenta equivalente: a sua câmara fotográfica
digital.
Sugiro
o simples teste: escolham um objecto multicolorido. Coloquem-no sobre uma
cartolina que sabem branca. Calibrem a vossa câmara para “luz de dia”. E
fotografem-no à luz do sol directo, sob a luz de fluorescentes (há vários
tipos) e sob a iluminação de lâmpadas economizadoras, “quente” e “luz de dia”.
Nos casos da luz artificial, esperem uns minutos, 5 ou 6, para que estabilizem
as ionizações e respectivas radiações visíveis (luz).
Comparem
depois os resultados no vosso computador. De preferência usando uma imagem
artificialmente criada e pintada de branco puro.
E pensem, depois,
em como estão a subverter a forma como vêem o mundo e as suas cores.
O
orador do colóquio a que assisti ainda acrescentou um outro factor, importante
para os que acham que podemos adulterarmo-nos em função da ecologia:
O
custo de produção (fabrico e materiais) das lâmpadas fluorescentes e
economizadoras, o custo de reciclagem das mesmas quando fora de uso (as
economizadoras contêm circuitos electrónicos na base, com metais pesados) e o
que fazer com os gases e pós que elas contêm. Notem bem as indicações que os
ecopontos têm sobre estas lâmpadas.
Para
os puristas da produção de imagem, sugiro que calibrem os vossos monitores em
função da dominante cromática em que vivem, no equilíbrio verde/magenta, tão
importante como a conhecida e badalada “temperatura de cor”, que apenas
reflecte a relação azul/vermelho. Bem como a qualidade das vossas impressões e
sob que luz as observam. E lembrem-se, igualmente, que os trabalhos em suporte
electrónico são vistos pelo público em monitores calibrados sabe-se lá como e
por onde: dominantes, saturações e gamas.
Para
os não puristas, recomendo que ajustem o vosso monitor uma vez por ano e que
tratem de gostar do que aí vêem. Os resto… os outros que se cuidem.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário