A
gadanha é uma alfaia agrícola.
Trata-se
de uma foice de lâmina longa e larga, não muito curva, colocada na extremidade
de um cabo longo. O seu utilizador está de pé e a lâmina roça o chão.
É
hoje conhecida por dois motivos:
Por
um lado, e por ser alfaia agrícola, era empregue pelas populações quando em
confrontos violentos. É usada em ilustrações nas mãos de camponeses quando
revoltados e na falta de armas convencionais. O seu aspecto não é de inspirar
confiança e o seu uso não é, de todo, tranquilizador.
Por
outro lado, foi generalizada esta ferramenta como símbolo da morte. Vê-mo-la em
inúmeras ilustrações e iluminuras antigas: uma figura, em regra encapuçada e
com uma caveira no lugar de face, empunhando-a. Ao que julgo saber, a utilização
da gadanha como instrumento da morte prende-se com o facto de, ao ser usada,
cortar tudo por igual, não diferenciando as boas das más ervas, como seria o
caso de uma foice de cabo curto. E a morte, sabemo-lo, a todos leva de igual
modo. Bons e maus.
Fiquei
hoje sabendo que morreu António Borges. Levado por essa gadanha que a todos
nivela.
Haverá,
creio, quem lamente a sua morte. Naturalmente que os seus familiares, talvez
que alguns alunos e os seus correligionários na finança, pensamento e política.
Eu
não sou um deles!
O
seu pensamento e discurso influenciaram por demais as actuais políticas,
conduzindo-nos a onde estamos, sem que por isso respondesse perante o povo. As
suas influências teóricas e políticas sempre se fizeram meio na sombra, para além
do sufrágio popular, ficando os eleitos com a responsabilidade de tal. Para
usar uma expressão que de quando em vez está na moda, fazia parte de um “governo
sombra”. Sem responsabilidades nem responsabilizações. Dizia e influenciava o
que tinha para dizer e influenciar e seguia a sua vida sem mais.
A
sua morte, agora, dar-me-á trabalho. Terei que de uma destas apagar o seu nome,
porque inútil o seu uso. Claro que, e face à escassez de material e à super
abundância de candidatos, terei que encontrar o nome certo para o substituir. Coisa
demorada, como se imagina, aí para uns quinze a vinte segundos.
By me
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