Em
tempos frequentei um curso de prevenção de acidentes de trabalho. Foi já há
tanto tempo que muito do que então aprendi já esqueci. Muito mas não tudo.
Recordo,
entre outros, a definição de fogo que, e usando as palavras do formador, era o
que ensinavam aos básicos:
“O
fogo é um triângulo, em que cada uma das arestas é, respectivamente, combustível,
comburente e energia. Em se retirando uma das arestas, não há triângulo. Não há
fogo.”
Por
combustível, todos entendemos os que é: gasolina, palha, madeira, papel… Se não
houver o que arder, não há fogo.
Por
comburente entenda-se o oxigénio. Retiramo-lo abafando o fogo. Com água, a
tampa na frigideira, o cobertor, terra…
Por
energia entendemos o calor. Se arrefecermos o que arde, este extingue-se.
A
água é o que mais conhecemos como agente de combate a fogos. Cumpre a função de
abafar e arrefecer. Os extintores de pó químico cumprem a função de abafar e os
de neve carbónica a de abafar e arrefecer, principalmente esta última. Existiam
também até há uns anos os extintores de gás Halon, que cumpriam a função de
abafar, sendo que se combinavam com o oxigénio, criando um outro composto e anulando
a presença de oxigénio. Foi proibido há vinte anos, não apenas por ser tóxico
mas também por ser danoso para a camada de ozono, já que este é oxigénio,
combinado em três átomos, no lugar de dois como é habitual.
Falta
falar na forma mais simples, mas trabalhosa, de se extinguir um fogo:
retirar-lhe o combustível. Conhecemos esta técnica com a maior das facilidades:
retirar de perto de um incêndio tudo o que possa arder. Fazemo-lo nas casas,
nas garagens, nas oficinas…
Em
tempos antigos, havia uma norma régia em Lisboa que, em havendo incêndio, os
tanoeiros e construtores navais eram obrigados a comparecer com as suas
ferramentas. Não havendo acesso à água como o conhecemos hoje, e sendo as
construções feitas com muita madeira, a sua função era destruir com as suas
ferramentas pesadas as casas em redor para evitar que o fogo se propagasse ao
resto da cidade.
E
no fogo florestal faz-se algo de parecido: preventivo ou interventivo.
Como
preventivo é aquilo de que tanto vimos ouvindo falar: limpeza das matas e
florestas, retirando ervas e mato seco. Isto acontecia sistematicamente nos
tempos em que isso mesmo era usado como combustível nas habitações e em que
quem vivia do campo e da floresta habitava por perto e cuidava do que era seu.
Não é o caso hoje, em que os donos das terras vivem longe, por vezes accionistas
de corporações, deixando a terceiros o trabalho de o fazer. Restam os poucos
que residem nas aldeias, envelhecidos e com menor esperança no futuro.
Outra
forma de combater incêndios faz parte das frases populares: combater o fogo com
o fogo. Por outras palavras, em havendo fogos não extinguíveis na frente de
fogo, fazer queimadas controladas no seu caminho, impedindo o seu progresso por
ausência de combustível. Também é técnica antiga e recorre a meios simples, se
bem que perigosos se se descontrolar.
Não
sou bombeiro nem especialista em combates a incêndios.
Mas
vejo nas imagens televisivas bombeiros mal equipados, combatendo incêndios na
linha de fogo, com gente a morrer onde deveriam salvar pessoas e bens.
E
vejo isto acontecer em terrenos privados e públicos: mato e floresta de
pequenos agricultores, de grandes produtores de papel, matas nacionais, parques
protegidos.
E
se é complicado – mas não impossível – impor a idosos que cuidem das matas, é
imperdoável que as grandes empresas o não façam. E é criminoso. Tal como é imperdoável
e criminoso que o próprio Estado não o faça.
Quando
dos incêndios florestais mais não restar que terra queimada e a memória, quando
os eventuais incendiários forem julgados (quantos já o foram nos últimos
anos?), fará sentido que se responsabilizem criminalmente quem não cuidou de
mato e floresta e que, com isso, foi co-responsável por mortes de bombeiros.
By me
Imagem algures na net
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