sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Fogo



Em tempos frequentei um curso de prevenção de acidentes de trabalho. Foi já há tanto tempo que muito do que então aprendi já esqueci. Muito mas não tudo.
Recordo, entre outros, a definição de fogo que, e usando as palavras do formador, era o que ensinavam aos básicos:
“O fogo é um triângulo, em que cada uma das arestas é, respectivamente, combustível, comburente e energia. Em se retirando uma das arestas, não há triângulo. Não há fogo.”
Por combustível, todos entendemos os que é: gasolina, palha, madeira, papel… Se não houver o que arder, não há fogo.
Por comburente entenda-se o oxigénio. Retiramo-lo abafando o fogo. Com água, a tampa na frigideira, o cobertor, terra…
Por energia entendemos o calor. Se arrefecermos o que arde, este extingue-se.
A água é o que mais conhecemos como agente de combate a fogos. Cumpre a função de abafar e arrefecer. Os extintores de pó químico cumprem a função de abafar e os de neve carbónica a de abafar e arrefecer, principalmente esta última. Existiam também até há uns anos os extintores de gás Halon, que cumpriam a função de abafar, sendo que se combinavam com o oxigénio, criando um outro composto e anulando a presença de oxigénio. Foi proibido há vinte anos, não apenas por ser tóxico mas também por ser danoso para a camada de ozono, já que este é oxigénio, combinado em três átomos, no lugar de dois como é habitual.
Falta falar na forma mais simples, mas trabalhosa, de se extinguir um fogo: retirar-lhe o combustível. Conhecemos esta técnica com a maior das facilidades: retirar de perto de um incêndio tudo o que possa arder. Fazemo-lo nas casas, nas garagens, nas oficinas…
Em tempos antigos, havia uma norma régia em Lisboa que, em havendo incêndio, os tanoeiros e construtores navais eram obrigados a comparecer com as suas ferramentas. Não havendo acesso à água como o conhecemos hoje, e sendo as construções feitas com muita madeira, a sua função era destruir com as suas ferramentas pesadas as casas em redor para evitar que o fogo se propagasse ao resto da cidade.
E no fogo florestal faz-se algo de parecido: preventivo ou interventivo.
Como preventivo é aquilo de que tanto vimos ouvindo falar: limpeza das matas e florestas, retirando ervas e mato seco. Isto acontecia sistematicamente nos tempos em que isso mesmo era usado como combustível nas habitações e em que quem vivia do campo e da floresta habitava por perto e cuidava do que era seu. Não é o caso hoje, em que os donos das terras vivem longe, por vezes accionistas de corporações, deixando a terceiros o trabalho de o fazer. Restam os poucos que residem nas aldeias, envelhecidos e com menor esperança no futuro.
Outra forma de combater incêndios faz parte das frases populares: combater o fogo com o fogo. Por outras palavras, em havendo fogos não extinguíveis na frente de fogo, fazer queimadas controladas no seu caminho, impedindo o seu progresso por ausência de combustível. Também é técnica antiga e recorre a meios simples, se bem que perigosos se se descontrolar.

Não sou bombeiro nem especialista em combates a incêndios.
Mas vejo nas imagens televisivas bombeiros mal equipados, combatendo incêndios na linha de fogo, com gente a morrer onde deveriam salvar pessoas e bens.
E vejo isto acontecer em terrenos privados e públicos: mato e floresta de pequenos agricultores, de grandes produtores de papel, matas nacionais, parques protegidos.
E se é complicado – mas não impossível – impor a idosos que cuidem das matas, é imperdoável que as grandes empresas o não façam. E é criminoso. Tal como é imperdoável e criminoso que o próprio Estado não o faça.

Quando dos incêndios florestais mais não restar que terra queimada e a memória, quando os eventuais incendiários forem julgados (quantos já o foram nos últimos anos?), fará sentido que se responsabilizem criminalmente quem não cuidou de mato e floresta e que, com isso, foi co-responsável por mortes de bombeiros.

By me 
Imagem algures na net 

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