Quando
em turismo, gosto de ver igrejas por dentro. Não apenas por questões da arte
sacra mas, e principalmente, porque a forma como estão mantidas me fala de quem
as frequenta. E faço turismo para conhecer pessoas e não apenas arte.
Sempre
assim fiz e aquando desta história, há trinta e tal anos, já o fazia.
Londres,
Julho, acampado, sozinho.
Vadiando
p’la cidade, vejo uma igreja de tamanho razoável que me pareceu justificar a
visita.
Levava
eu o cachimbo aceso e, quando me dirigia para a porta, um homem dos seus trinta
e tal anos que ali estava lembrou-me que não deveria entrar a fumar. Claro que
essa não era a minha intenção e disse-lho, apagando-o. E ficámos à conversa,
para sorte minha.
Tratava-se
do padre daquela igreja e fez de guia turístico no interior. Que valia a pena
visitar, já que o templo estava dedicado à santa padroeira da RAF (não recordo
qual era) e estava decorada com inúmeros estandartes da corporação, alguns bem
antigos. Lindíssimo, tanto mais que se tratava de uma igreja Anglicana, com a
sua arquitectura típica, entre pedra e madeira.
Estávamos
nisto, no meio da nave com ele a explicar-me tudo aquilo, quando se aproxima
outro homem. Cinquentão, com ar modesto, vinha pedir ajuda.
A
sua história era que estava desempregado mas que tinha obtido uma promessa de
emprego do outro lado da cidade. Mas não tinha dinheiro para os transportes. E
propunha a venda de um rádio portátil para obter os fundos necessários.
O
sacerdote pegou-lhe gentilmente por um braço e encaminhámo-nos os três para o átrio
da igreja. Onde lhe fez mais algumas perguntas e lhe comprou o aparelho. E eu,
puto, a acompanhar a coisa, tentando perceber o inglês em que se desenrolava a
conversa.
Afastando-se
o homem e pondo o padre o rádio debaixo do braço, perguntei-lhe eu porque havíamos
saído de onde estávamos para ali fazer o negócio. Disse-me ele, sorrindo e no
mesmo tom suave com que havia conduzido toda a conversa comigo e com o outro:
“Na
casa do Senhor não se fazem negócios. Aqui no átrio, não faz mal.”
Continuo
a não ser crente e continuo a não ter boa opinião sobre muitos dos sacerdotes.
Não importa qual a confissão religiosa.
Mas
alguns merecem ser conhecidos.
By me
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