terça-feira, 20 de agosto de 2013

Ontem foi o dia da fotografia



Acontece que não gosto dos “dias de”. Fico sempre com aquela sensação amarga de ser necessário um dia de comemoração para que nos lembremos do importante que estamos a comemorar. No caso específico da fotografia, celebro-a eu, com a prática, todos os dias do ano, e mais seriam se mais houvesse.
Mas não querendo eu ser menos nem mais que todos os outros, aqui fica uma fotografia e uma estórinha a propósito do dia de ontem, o da fotografia.

Quando eu era pequeno lia tudo o que me aparecia p’la frente. O tudo é relativo, que deixei de parte o Pantagruel e a Lista Telefónica. Esta porque tinha muitas personagens e pouca acção, aquele porque me dava fome. Mas, fora isso, marchou de tudo, o que era próprio para a minha idade e o que não era. O que havia em casa e o que havia em casa dos amigos. Aliás, era um hábito comum: sem que deixassem de ter dono, os livros de cada um circulavam p’las casas de todos, num espírito de partilha já não muito habitual nos tempos que correm.
Fosse como fosse, a minha família ia alimentando essa minha fome de leitura e saber à medida do que era possível, considerando os orçamentos e tentando fazer uma selecção entre o que eu poderia ou deveria ler e o que havia disponível no mercado de então. Falo dos anos sessenta e setenta.
Nessa selecção eram incluídas algumas biografias. Para além do prazer da leitura, sempre ficavam os exemplos de vida relatados.
Um destes foi sobre o Dr. Albert Schweitzer, um médico que dedicou grande parte da sua vida ao combate in loco de doenças epidémicas em África. A capa do livro era a fotografia que aqui mostro, feita por Eugene Smith.
Passaram-se muitos anos antes que soubesse quem a tinha feito, mas nunca ela me saiu da cabeça. Tal como se passaram muitos anos antes de eu perceber da sua importância.
Quando, já homem feito, tropecei nela de novo foi numa monografia sobre o seu autor e tudo regressou, como se a biografia tivesse sido lida na véspera. E se nessa altura a fotografia já fazia parte da minha vida, talvez que tenha sido nesse dia que me apercebi muito a sério da importância daquilo que ela transmite, bem para além da qualidade técnica que possa ter.
Eu, que andava com a cabeça cheia com os Adams, os Bressons, os Westons, os Weegees, que andava a ensaiar os Zone Systems e procurava as purezas da composição e as excelências do negativo, acordei para os outros lados da fotografia, em que a semiótica da imagem e factor comunicação se e os sobrepõem.

Estou em crer que todos os que lidam com imagens têm várias que os marcaram. Por este ou aquele motivo. Esta é uma das que pertencem à minha própria galeria de especiais.

By me 

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