Acontece
que não gosto dos “dias de”. Fico sempre com aquela sensação amarga de ser
necessário um dia de comemoração para que nos lembremos do importante que
estamos a comemorar. No caso específico da fotografia, celebro-a eu, com a
prática, todos os dias do ano, e mais seriam se mais houvesse.
Mas
não querendo eu ser menos nem mais que todos os outros, aqui fica uma
fotografia e uma estórinha a propósito do dia de ontem, o da fotografia.
Quando
eu era pequeno lia tudo o que me aparecia p’la frente. O tudo é relativo, que
deixei de parte o Pantagruel e a Lista Telefónica. Esta porque tinha muitas
personagens e pouca acção, aquele porque me dava fome. Mas, fora isso, marchou
de tudo, o que era próprio para a minha idade e o que não era. O que havia em
casa e o que havia em casa dos amigos. Aliás, era um hábito comum: sem que
deixassem de ter dono, os livros de cada um circulavam p’las casas de todos,
num espírito de partilha já não muito habitual nos tempos que correm.
Fosse
como fosse, a minha família ia alimentando essa minha fome de leitura e saber à
medida do que era possível, considerando os orçamentos e tentando fazer uma
selecção entre o que eu poderia ou deveria ler e o que havia disponível no
mercado de então. Falo dos anos sessenta e setenta.
Nessa
selecção eram incluídas algumas biografias. Para além do prazer da leitura,
sempre ficavam os exemplos de vida relatados.
Um
destes foi sobre o Dr. Albert Schweitzer, um médico que dedicou grande parte da
sua vida ao combate in loco de doenças epidémicas em África. A capa do livro
era a fotografia que aqui mostro, feita por Eugene Smith.
Passaram-se
muitos anos antes que soubesse quem a tinha feito, mas nunca ela me saiu da
cabeça. Tal como se passaram muitos anos antes de eu perceber da sua
importância.
Quando,
já homem feito, tropecei nela de novo foi numa monografia sobre o seu autor e
tudo regressou, como se a biografia tivesse sido lida na véspera. E se nessa
altura a fotografia já fazia parte da minha vida, talvez que tenha sido nesse
dia que me apercebi muito a sério da importância daquilo que ela transmite, bem
para além da qualidade técnica que possa ter.
Eu,
que andava com a cabeça cheia com os Adams, os Bressons, os Westons, os
Weegees, que andava a ensaiar os Zone Systems e procurava as purezas da
composição e as excelências do negativo, acordei para os outros lados da
fotografia, em que a semiótica da imagem e factor comunicação se e os
sobrepõem.
Estou
em crer que todos os que lidam com imagens têm várias que os marcaram. Por este
ou aquele motivo. Esta é uma das que pertencem à minha própria galeria de
especiais.
By me
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