segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Linha d'água



Se a torneira de luz continuar seca, o tanque de sombra continuará a encher, a ponto de nos afogarmos na escuridão.
Quando morrer eu, que é uma das poucas certezas que tenho, espero que seja na luz, jogando com ela e com as sombras, estas e as outras.
Um pouco à imagem de Mestre Benjamim, patrão de uma traineira registada no Algarve e que me fez o favor, há muitos anos, de me ter como companhia na companha que saía à pesca nas noites cálidas de verão.
Dizia ele que gostaria de morrer agarrado ao leme, a coisa que mais gostava de fazer.

De alguma forma a fortuna sorriu-lhe: estava a olhar para o sonar, em busca do cardume que haveriam de apanhar, quando sofreu o ataque de coração. Ficou-se ali mesmo, a menos de um metro da roda do leme.

By me

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