Certo!
Já por cá ando há mais
de meio século, pelo que o apodo de “cota” não será de todo desajustado.
Em termos de captação
e tratamento de imagem, ao já por cá andar há tanto tempo fez com que usasse de
quase todos os sistemas e suportes: películas e sensores, químicas e electrónicas,
CCDs, CMOS e tubos de raios catódicos, matricial e sequencial, pequenos médios
e grandes formatos, estáticos, animados e de alta resolução.
Alguns desses
processos tornaram-se com que uma segunda natureza para mim, outros são mais não
são que história, outros ainda me são um pouco estranhos, não os dominando por
completo. E acredito que quem teve a sorte, como eu, de passar por tantos e tão
díspares tenha dificuldade em estar a par de todos e que alguns deles pouco
mais sejam que anacronismos curiosos ou tecnologias a dominar.
Por mim, que por
dever de ofício ou satisfação da alma, tenho vindo a dominar ou a arranhar
todos eles, tenho optado conhecer tão a fundo quanto me é possível o que tenho
entre mãos, preocupando-me bem mais com os resultados que com os métodos. Quero
“contar uma história”, e bem contada, com a ferramenta que estou a usar,
preocupando-me a sério com as últimas tecnologias se e quando elas tiver que
usar. Mantenho-me informado mas não as aprofundo como as que estou a usar ou em
perspectivas disso.
Uma coisa há, no
entanto, que é imutável. Que não depende dos equipamentos ou das tecnologias
empregues: a luz. Esta, mais assim ou mais assado, com origem em aquecimento,
descargas de gás ou LEDs, continua a ser a emissão e reflexão de energia, que tem
uma trajectória rectilínea e um movimento ondulatório, cujas frequências são
por nós traduzidas em cores, cuja interrupção na sua trajectória resulta em
sombra, com uma intensidade variável na proporção inversa do quadrado da distância,
cujo ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência, e cuja trajectória é alterada
pela aplicação de energia ou com materiais que lhe sejam permeáveis.
Mas, e
principalmente, é ela que permite o captar imagem, sejam quais forem as
tecnologias empregues. É ela que faz com que um dado assunto seja mais “bonito”
ou nem tanto. É ela que nos permite contar histórias e estórias.
Nenhum fotógrafo,
videógrafo, cineasta, profissional ou curioso interessado ignora que ela é a
sua matéria-prima nem a maltrata ou menospreza. Em o fazendo, os resultados são
os que vamos vendo, infelizmente, na net, na imprensa, nos receptores.
Sendo esta a minha
abordagem – talvez que de cota com mais de meio século – imagine-se como me
sinto ao ter conversas com alguns da nova geração que entendem que a imagem se
capta “mais ou menos” e que os contrastes, os ajustes das altas e baixas luzes,
as sombras, os jogos de cor se tratam depois, desde que se possua uma boa máquina
para os processar.
Um bom pós-processamento
é vital na produção de imagem. Sempre o foi. E, se outros motivos não
existissem, basta pensar que fotografia, vídeo e cinema têm – sempre – que ser
objecto desse tratamento. Tanto na edição, como no controlo, na impressão, na
etalonnage, nos efeitos especiais…
Mas com má matéria-prima
– no caso, má imagem de origem ou má luz – por muito que se esforcem o mais que
se consegue é um resultado sofrível. Se tanto. Nem mesmo os últimos avanços
tecnológicos conseguem suprir essas falhas.
Dizerem-me que
para se fazer uma boa imagem basta um gráfico de luzes e tons, estático ou
animado, é o mesmo que me dizerem que para Bruegel ou Leonardo bastava um bom
pincel, que para Stanley ou Alfred bastava uma boa película ou que para Helmut
ou Frank bastava um bom ampliador.
Serei cota com
mais de meio século a arrastar a carcaça mas, para mim, bem mais importante que
o como é o porquê. E a luz!
By me
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