A história é
antiga: antigos os factos, antigo o relato.
Talvez mesmo me
esteja a repetir por aqui.
Mas há coisas ou
histórias que são bem mais importantes que datas ou técnicas. E foi um desgosto
fotográfico que me marcou até hoje.
Vi no peitoril da
janela um insecto. Pequenito e não voador, recordo que tinha cores bonitas e
diferentes. E achei que era um bom assunto para fotografar.
Mas vários
problemas se levantavam.
Desde logo o seu
tamanho. Os menos de dez milímetros que possuía implicavam recorrer a técnicas
de macro fotografia, pelo que decidi usar a objectiva de 50 mm invertida no corpo
da Pentax LX. Esta técnica, que permite uma escala de reprodução bem grande,
implica uma igualmente grande proximidade ao assunto, uns 20 mm, mais coisa,
menos coisa.
Para a iluminação,
haveria que recorrer à luz natural e reflectores, já que a proximidade
inviabiliza o uso de flash, anelar ou clássico.
Assim, e decididas
estas questões de cariz técnico, usei de um copo de vidro para evitar que o
bichinho se fosse embora. Não me passaria pela cabeça fazer-lhe mal e iria
liberta-lo assim que o fotografasse.
Mas o coitado não
estava lá muito pelos ajustes, e não havia forma de estar parado. Fora do copo
fugiria, dentro dele e visto da abertura ficava fora de foco, e através do
vidro com distorções de imagem. Que fazer?
Usando dos
recursos existentes em casa e de um pouco de imaginação, concebi um dispositivo:
Sacrifiquei uma
caixa de filtros, com uns 60 mm de diâmetro e, numa das metades, cortei-lhe o
fundo. No seu lugar, colei-lhe uma placa de vidro, do tamanho dos filtros
Cokin, que tinha mandado fazer para uma experiências com filtros neutros feitos
com negro de fumo. (São fáceis de fazer mas um cuidado se impõe: a chama muito
próxima pode partir o vidro com o calor)
Fiquei assim com o
que necessitava: um recinto para conter o bicharoco e com altura e luz
suficiente.
Montei todo o
dispositivo (câmara em tripé, caixa, luz), assegurei-me da quantidade e
qualidade de luz e foco e tratei de transferir o animal do copo para a caixa.
Quando coloquei
esta sob a objectiva e espreitei pelo visor, ainda fui a tempo de ver os últimos
estertores do pequenote. Esperneava e contorcia-se, enchendo com a sua agonia
todo o enquadramento. E morreu!
Doeu-me! Juro que
me doeu fundo na alma! Pela sua morte não desejada e que procurara evitar e por
não perceber o que se passara. Só após uma análise aprofundada da situação dei
com a coisa: os vapores da cola que tinha usado tinham intoxicado o insecto.
Até àquela data
nunca tinha pensado seriamente no assunto. Mas os conceitos estavam cá, não
teorizados ou definidos. Mas ficou perfeitamente claro para mim na altura.
O meu prazer
fotográfico – egoísta, pela certa – não justifica em nenhuma circunstância a
morte de animal ou planta.
Ou bem que consigo
a imagem pretendida respeitando a vida e a integridade do ser vivo a
fotografar, ou vou à procura de qualquer outra coisa onde assentar a minha
objectiva.
Que a ética e o
respeito pela vida não passa apenas pelos humanos!
By me
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