sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Reflectâncias



No meu saco ou mochila do quotidiano, aquele que me acompanha todos os dias para o trabalho ou equivalente, tenho um montão de coisas, cujo número aumenta diariamente.
Coisas que me fazem falta fora de casa, coisas que penso que me fazem falta fora de casa, coisa que não me fazem falta fora de casa, coisas que não me fazem falta onde quer que seja.
De entre elas estão duas echarpes, compradas numa dessas lojas do chinês, muito baratas, muito finas, muito leves. Fazem elas parte de um projecto fotográfico que, quando me lembro e me apetece, vou pondo em prática. Uma branca, outra preta. Ocasionalmente, acrescento uma colorida.
Já aconteceu que, em conversa com colegas de trabalho, as tenha mostrado. Trata-se de gente ligada à produção de imagem, com conhecimentos técnicos, estéticos e semióticos avançados, alguns muito avançados, com quem consigo manter conversas de interesse mútuo.
E conto-lhes sobre o uso que dou a tais objectos, mostrando-lhes algumas dessas imagens, se tiver alguma comigo.
Tal como explico em que medida estes panos, tão singelos e banais, podem ser usados em funções didácticas, ajudando a explicar em duas ou três penadas, a forma como os sistemas de medição de luz e controlo de exposição das câmaras (fotográficas ou outras) funciona e em que medida a intervenção humana é fundamental na sua interpretação.
Ficam eles, esses meus colegas, a olhar para mim, como se tivesse acabado de explicar uma nova teoria da origem do universo. Nem isto, nem os fundamentos muito menos que básicos do Zone System, são conhecidos. Nem as necessidades de fazer uma análise séria às reflectâncias do assunto, mesmo que inconsciente.

Caramba!
Aprendi eu isto há umas dezenas de anos, nos primórdios da minha envolvência no fazer de imagem, fosse qual fosse o suporte, explicado e demonstrado por um Mestre. Com esta mesma simplicidade de duas superfícies de reflectâncias opostas e num tempo em que sistemas automáticos eram coisas raras e muito dispendiosas.
E os demais com quem convivia à época, todos o sabiam e dominavam, com maior ou menor profundidade.
Pergunto-me como é possível que hoje, com tantos automatismos e auxiliares electrónicos, não se domine os conceitos básicos de exposição e seu controle.
Estamos a criar uma sociedade de profissionais que, sabendo usar o botão, nada sabe sobre o que acontece atrás dele.
Ou, se preferirem uma expressão mais violenta, uma sociedade de sábios idiotas.
Saber os comos sem sequer desconfiar dos porquês transforma-nos em perfeitos robots de um sistema que de humano apenas possui o nome!

Fotografia incluída!

By me

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