No meu saco ou
mochila do quotidiano, aquele que me acompanha todos os dias para o trabalho ou
equivalente, tenho um montão de coisas, cujo número aumenta diariamente.
Coisas que me
fazem falta fora de casa, coisas que penso que me fazem falta fora de casa,
coisa que não me fazem falta fora de casa, coisas que não me fazem falta onde
quer que seja.
De entre elas
estão duas echarpes, compradas numa dessas lojas do chinês, muito baratas,
muito finas, muito leves. Fazem elas parte de um projecto fotográfico que,
quando me lembro e me apetece, vou pondo em prática. Uma branca, outra preta.
Ocasionalmente, acrescento uma colorida.
Já aconteceu que,
em conversa com colegas de trabalho, as tenha mostrado. Trata-se de gente
ligada à produção de imagem, com conhecimentos técnicos, estéticos e semióticos
avançados, alguns muito avançados, com quem consigo manter conversas de
interesse mútuo.
E conto-lhes sobre
o uso que dou a tais objectos, mostrando-lhes algumas dessas imagens, se tiver
alguma comigo.
Tal como explico
em que medida estes panos, tão singelos e banais, podem ser usados em funções
didácticas, ajudando a explicar em duas ou três penadas, a forma como os
sistemas de medição de luz e controlo de exposição das câmaras (fotográficas ou
outras) funciona e em que medida a intervenção humana é fundamental na sua
interpretação.
Ficam eles, esses
meus colegas, a olhar para mim, como se tivesse acabado de explicar uma nova
teoria da origem do universo. Nem isto, nem os fundamentos muito menos que básicos
do Zone System, são conhecidos. Nem as necessidades de fazer uma análise séria
às reflectâncias do assunto, mesmo que inconsciente.
Caramba!
Aprendi eu isto há
umas dezenas de anos, nos primórdios da minha envolvência no fazer de imagem,
fosse qual fosse o suporte, explicado e demonstrado por um Mestre. Com esta
mesma simplicidade de duas superfícies de reflectâncias opostas e num tempo em
que sistemas automáticos eram coisas raras e muito dispendiosas.
E os demais com
quem convivia à época, todos o sabiam e dominavam, com maior ou menor
profundidade.
Pergunto-me como é
possível que hoje, com tantos automatismos e auxiliares electrónicos, não se
domine os conceitos básicos de exposição e seu controle.
Estamos a criar
uma sociedade de profissionais que, sabendo usar o botão, nada sabe sobre o que
acontece atrás dele.
Ou, se preferirem
uma expressão mais violenta, uma sociedade de sábios idiotas.
Saber os comos sem
sequer desconfiar dos porquês transforma-nos em perfeitos robots de um sistema
que de humano apenas possui o nome!
Fotografia
incluída!
By me
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