É sabido que
qualquer corrente eléctrica cria um campo magnético em seu redor. De maior ou
menor intensidade ou alcance, isso acontece.
É igualmente
verdade que as sinapses (descargas eléctricas entre neurónios no cérebro) criam
campos magnéticos. Mais que verdade, a ciência médica usa-as para diagnósticos,
medindo-as de algum modo.
Será previsível que
em situações semelhantes existam sinapses semelhantes. E campos magnéticos
semelhantes.
Não me refiro à
chamada “transmissão de pensamento”. Para tal, seria necessário que tanto o que
pensa como o que recebe o pensamento estivessem na mesma “frequência” e que as
memórias acumuladas fossem idênticas, para que as sinapses fossem iguais ou
interpretáveis. Acontece algo de semelhante entre casais idosos, que sempre
viveram juntos, e cujos estímulos externos geraram memórias comuns. E como
sabem as opiniões e preferências da cara-metade, facilmente e perante uma mesma
situação sabem o que ela pensa. Emissão e recepção desses tais campos
magnéticos, com uma interpretação baseada na experiência comum.
Mas existirão
sinapses ou campos magnéticos comuns a muita gente perante as mesmas
circunstâncias. Alimentados por experiências comuns, poderão gerar pensamentos
comuns ou semelhantes. Um desses casos é o dos templos religiosos.
Ao longo de muitos
e muitos anos, milhares de pessoas frequentaram aquele templo animadas dos
mesmos ou semelhantes pensamentos ou sentimentos: religiosidade, veneração,
esperança, boa-vontade, perdão, optimismo…
Imagino que tantas
pessoas, no mesmo local, gerando o mesmo tipo de campo magnético ou energia,
acabe esta por ficar retida ma matéria circundante: a estrutura do edifício,
tapeçarias, quadros, estatuária, candelabros… de algum modo, imagino, esta
matéria recebendo tanta energia semelhante, acaba por adquiri-la e devolvê-la a
quem estiver por perto.
Talvez que por
isso, mesmo os mais agnósticos, ateus ou descrentes naquela fé, ao visitarem um
templo e se sem ideias pré-concebidas, se sentem bem no seu interior. As tais
energias positivas acabam por os influenciar. Tal como os crentes, que ali vão
em busca de algo concreto e receptivos a esse tipo de energia ou radiação,
recebem-na com facilidade.
É também por isso
que, ao longo de milénios, as civilizações conquistadoras têm erguido os seus
próprios tempos sobre as ruínas dos templos devastados na conquista. Não apenas
porque, assim, humilham a cultura conquistada, mas porque será ali que apetece
erguer um local com boas “energias”.
Vem isto tudo a
propósito de um local que visitei recentemente. É a reconstrução, de raiz, de
um edifício que ardeu e do qual, suponho, terá sobrevivido apenas a memória e
parte da estrutura.
Nesta reconstrução
estão empregues materiais novos, que se sentem como sendo novos, acabadinhos de
usar. Madeiras, pinturas de paredes, caixilharia e portas… tudo novo, mesmo que
em alguns pedaços lhe tenha sido acrescentado uma falsa patine temporal.
Alguns espaços
estão já decorados com objectos de época que, creio, não são os que ali
estariam aquando do incêndio.
Pese embora o
local ser aprazível e tentar evocar o passado, não o senti. Nada. Nadica. Aquele
local falava comigo como tem falado a enormidade de cenários de televisão,
teatro e cinema onde estive: é bonito mas é falso. Não teve vivências, emoções.
Ali não foram gerados campos magnéticos provindos de sinapses cerebrais. Ali
não aconteceu coisa alguma.
Podemos,
certamente, ficcionar estórias ou histórias, transpor para ali outras
situações. É o que se faz na indústria do audiovisual. Mas será sempre um faz
de conta, um jogo de enganos em que tanto quem os constrói como quem os assiste
sabem do embuste.
Posso imaginar
desta escrevaninha o acto especial de escrever. O cerimonial de escolher o tipo
de papel, o tipo de aparo, o frasco de pó de talco por perto para que não
borrasse, o tinteiro… Posso até imaginar que numa escrevaninha colocada num
quarto de dormir se escrevessem cartas pessoais. Para a família, para o ou a
amada, poemas sentimentais ou romances apaixonados. Os papeis sérios seriam
escolhidos e escritos num escritório ou gabinete de trabalho, certamente.
O que cerca esta
escrevaninha pode ajudar-me a ter essa situação imaginada: a luz, o espelho e o
que nele se reflecte, os candeeiros presentes ou sentidos, até o formato das
janelas.
Mas aqui, estando
lá, olhando para estes objectos e tentando receber o que neles possa estar
registado energeticamente (e não nos enganemos: um quarto de dormir terá muitas
energias registas ao longo dos tempos) nada senti. Todos aqueles objectos e
paredes nada me contaram, em nada vibraram comigo mais que um qualquer cenário
televisivo, dos muitos em que passei muitas e muitas horas.
As técnicas de
imagem (luz, cor, perspectivas) podem simular muitas coisas, como eu tentei com
esta fotografia. Mas é falso, tão falso quanto uma moeda de três euros.
Posso garantir
que, quando estou a captar uma qualquer situação, não importa o suporte, se não
sentir algo, algum tipo de empatia com o local ou acção, o mais que consigo é
uma fraca imagem, assim como que uma fotocópia trabalhada daquilo que está à
minha frente.
Talvez que os bons
profissionais consigam enganar o público. Eu não sou capaz.
By me
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