Todos os ofícios têm
o seu quê de rotineiro. Mesmo os mais criativos, no quotidiano têm rotinas,
actos ou métodos que são iguais em cada dia, em cada truque.
Até um actor, dos
que trabalham na rua interagindo com o público e dele dependendo para a sua
perfomance, tem rotinas, deixas, gestos, reacções que são previsíveis porque
iguais e repetidas. Já tive oportunidade de ver alguns a representar e, passado
algum tempo e por muito bons e divertidos que sejam, acabamos por saber o que
irá fazer com este ou aquele transeunte, o que lhe irá dizer, de que forma o irá
mimar ou provocar. E trata-se de uma actividade bem criativa, onde o improviso é,
em boa parte, a chave do sucesso.
O invés também é verdade.
Por muito rotineira que possa ser uma profissão, há sempre oportunidade de se
ser criativo, inovador, marcar pela diferença no que é feito. Quantidade,
qualidade, perfeição. Querer e conseguir ir mais longe e melhor, nem que seja
pelo simples, se simples é, de fazer de cada dia um diferente, competindo
consigo mesmo e conseguir surpreender-se com os resultados.
Um destes dias
tive uma dúvida de trabalho. Aquilo que venho fazendo faz algum tempo é ligeiramente
diferente do que os meus companheiros fazem. É só um niquinho, mas é diferente.
Nestas circunstâncias
sou assaltado por dúvidas: sei justificar o que faço mas, sendo diferente dos
demais, estarei a fazê-lo bem feito? Ou estarei a cometer sistematicamente um
erro?
Para tirar estas dúvidas
(e criar novas, em regra) o melhor mesmo é trocar opiniões com companheiros de
ofício. Ventilar ideias, criar conclusões, nem que sejam que estamos todos
certos, ou todos errados, e que a diferença não é nem boa nem má.
Pois de um dos que
consultei recebi como resposta que preferia a outra solução. E, questionado
sobre o porquê da preferência, deixou-me esclarecido a seu respeito:
“Foi assim que me
ensinaram!”
Emitir uma opinião
com base no “sempre assim se fez” é mau! Denota incapacidade de ponderar,
evoluir, mudar, procurar algo de melhor que, quanto mais não seja, possa não
ser rotineiro.
Mas dizer “foi
assim que me ensinaram” em vez de “foi assim que aprendi” é um transpor de
responsabilidades, é um assumir não ter opinião própria, é um aceitar que faz o
que faz apenas como imitador dos restantes, pouco lhe importando a validade do
que está a ser feito.
Este exemplo,
lamentavelmente real, é apenas mais um no meio de tantos outros que podemos
encontrar a cada passo: o alijar de responsabilidades, o dar continuidade
apenas porque é tradição, o não aceitar nem nada fazer em prol da inovação, da
evolução. E o conformar-se com uma rotina cinzenta e entediante. Ser-se estático
na vida!
Um pouco como uma
refeição tomada num restaurante franshisado: tanto o conteúdo da ementa como
paladar do que engolimos não nos surpreende, nem pela negativa nem pela
positiva.
Uma papa-açorda
sempre igual, até ao tédio final!
By me
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