Não gosto de dizer
“É assim que se faz!”
Esta afirmação,
explícita ou implícita, é o expoente máximo da arrogância de se possuir a verdade
absoluta. Que eu não tenho.
Prefiro, antes
sim, dizer ou mostrar como eu faço. Mostrar a “minha” verdade, considerando
sempre que existem muitas outras verdades, tão válidas quanto a minha, mesmo
que não conduzam ao mesmo resultado.
Ontem a conversa
acabou por versar sobre imagens nocturnas. O que são e como o mostramos. E não
tive oportunidade de fazer uma imagem e sobre ela escrever que consubstanciasse
a minha verdade.
Recorro, por isso,
a uma imagem e texto já com algum tempo.
Da validade da
minha verdade e dos pressupostos que a ela conduzem aquilatará quem o ler.
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Só mesmo para
iluminar alguns aspectos:
A “noite” urbana não
se caracteriza, ao contrário do que geralmente se pensa, por “falta de luz”.
O que acontece é um
muito acentuado contraste entre o que está iluminado e o que não está.
Montras,
candeeiros, faróis, são fontes de luz cujas origens vemos e para as quais
olhamos. A luz que delas emana não é suficiente para nos encandear mas
suficiente para derramar alguma sobre as zonas circundantes. As mais distantes
recebem tão pouca ou quase nenhuma que dizemos estarem na escuridão.
Essa escuridão é muito
mais notória nos sistemas de captação de imagem que nos nossos olhos. Estes têm
um “automático” que se ajusta quase que instantaneamente a esses contrastes,
coisa que as câmaras (digitais ou de película) não fazem.
A técnica, ou o
truque, na fotografia nocturna não é mostrar tudo quanto os nossos olhos vêm,
mas antes evidenciar a existência desse contraste, permitindo que algumas zonas
tenham luz suficiente para que seja visível o que lá está e tirar partido das
zonas mais escuras, mostrando-as como tal. É este equilíbrio que é difícil!
Temos, assim, que
muitas vezes para fazer fotografia nocturna não necessitamos de usar longos
tempos de exposição para que haja detalhe nas zonas escuras. Basta que as
deixemos como tal e que mostremos os detalhes nas zonas claras. E é esse
contraste que nos dirá, espectadores, que se trata de uma imagem de noite.
Logo, se não
usamos sempre tempos demasiadamente longos, não necessitamos sempre de recorrer
a um tripé (que se quer pesado e sólido). Alguma firmeza de mão, algum eventual
apoio para a reforçar (esquina, candeeiro, ombro amigo, “corrente de autoclismo”)
e a coisa resolve-se sem mais complicações.
Antes de mais, o
que importa é saber o que queremos mostrar ou, por outras palavras, que história
ou estória queremos contar. “Se eu souber porquê, sei como”, como costumo dizer.
Em seguida, há o
sabermos tirar partido daquilo que temos connosco para fotografar. Se não
existe tripé, não adianta querer fazer tempos longos, pelo que haverá que
encontrar outras soluções, mesmo que uma delas seja o “não fotografar”. Ou, se
a câmara não permite tempos longos manualmente, saber enganar o programa nela
inserido (o tal japonês inteligente) por forma a obtermos o resultado desejado
e possível.
A título de
exemplo, fica esta imagem.
ISO 400, não muito
alto portanto, em modo “Programa” deixando o “japonês” a pensar, e com um
ajuste de -3 EV, para forçar que o que estava na escuridão, ou quase, assim
ficasse. Tempo de exposição 1/30 de segundo, perfeitamente compatível com o uso
da câmara à mão sem suportes adicionais ou muletas de ocasião.
Já o balanço de
brancos “WB” foi deixado em “luz de dia”, fazendo com que a iluminação ficasse
amarelada ou esverdeada, factor subjectivo extra para que se tenha a percepção
de se tratar de uma fotografia nocturna com a luz artificial de um local público.
Os meus cinco
cêntimos
By me
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