Leio num jornal diário
nacional que Fulano de Tal foi localizado.
De acordo com a
notícia, a companheira de Fulano, ao constatar que ele não regressara, deu o
alerta na polícia e criou-se um grupo no Facebook para o encontrar.
A notícia refere o
nome e a profissão de Fulano, a sua zona de residência bem como onde foi
encontrado e publica uma fotografia de Fulano.
A notícia não diz,
porém, em que circunstâncias foi encontrado: se falecido, de doente, se raptado
ou se tudo bem.
Não nos diz se o
seu desaparecimento foi acidental ou propositado.
Mas diz-nos muito
de Fulano, incluindo uma identificação fotográfica.
Partamos do princípio,
e como mero exercício, que Fulano desapareceu do meio em que vivia
(companheira, amigos, conhecidos, trabalho, redes sociais) por vontade própria.
Trata-se de um
adulto, que não tem que dar justificações a ninguém sobre o seu paradeiro. Não
está sob investigação judicial nem sobre ele existe um qualquer mandato de
detenção.
Qual é, então, o
direito de desconhecidos lançarem um alerta público e bem difundido nas redes
sociais sobre o paradeiro de alguém que não esteve em situação de perigo? Qual é,
então, o direito de um jornal em vir contar a público que Fulano deixou de ser
sabido nos meios que frequentava e que acabou por ser encontrado?
Pode-se assim
violar a privacidade de uma pessoa? Pode-se assim atirar para o mundo a vida de
um qualquer cidadão? Pode-se assim, pela exposição pública, forçar alguém a
regressar a casa?
Nas redes sociais é
frequente aparecerem pedidos de ajuda para que se encontre esta ou aquela
pessoa, com este ou aquele motivo. E os frequentadores das redes, na sua ânsia de
fazerem algo de positivo, metem o nariz onde não são chamados, divulgam para
todo o sempre que alguém esteve desaparecido. Melhor: que algumas pessoas não
sabiam do paradeiro daquele sobre o qual lançaram o alerta. A maioria dos que
assim procedem nem sequer conhecem a pessoa ou os seus amigos, limitando-se a
replicar uma página sem sequer investigar um pouco da sua veracidade ou
circunstâncias. Ficam assim uns milhares de pessoas a saber sobre a vida
privada de alguém que, por este ou aquele motivo, terá decidido fazer tábua rasa
da sua vida até então ou mesmo ter uma escapadinha seja lá pelo que for.
As redes sociais,
com esta situação e outras, violam sistematicamente a privacidade dos indivíduos.
Os jornais, na procura sempre insatisfeita, de aumentar as tiragens e os
lucros, não olham a meios para tal.
Pense duas vezes,
muito seriamente, antes de divulgar uma notícia ou página sobre o
desaparecimento de alguém.
Talvez que esteja
a fazer bem mais mal que bem.
A fotografia? Bem,
é a publicada no jornal em causa, mas com o acréscimo de as feições terem sido
por mim anuladas.
By me
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