“Como Serge Daney
gosta de dizer, “ficamos cegos diante da hipervisibilidade do mundo.” De tanto
ver já não vemos nada: o excesso de visão conduz à cegueira por saturação. Essa
mecânica contagia outras esferas da nossa experiência: se antigamente a censura
era aplicada privando-nos de informação, hoje, ao contrário, consegue-se a
desinformação imergindo em uma superabundância indiscriminada e indigerível de
informação. Hoje, a informação cega o conhecimento.”
By Joan
Fontcuberta, in “A Câmara de Pandora”
E eu
acrescentaria:
O mesmo se pode
dizer, sem sombra de dúvida, da fotografia.
De tanto vermos
fotografias sofríveis ou medíocres, perde-se a noção do que é bom ou não,
afinando os nossos padrões por baixo.
É aqui que livros,
exposições e alguns sites, em que as escolhas podem ter duvidosa qualidade mas
não costumam ser, servem para definirmos e aferirmos os padrões do que
entendemos por bom e muito bom.
E por bom não entendamos
apenas o clássico, as abordagens convencionais e os jogos de cor, luz e
composição de acordo com as regras habituais.
A experimentação, o
fazer diferente, o insólito abordar de algo que estamos fartos de ver mas que
nunca imaginaríamos registado daquela forma, mesmo e principalmente que à
margem do convencional, fazem parte do “bom” ou “muito bom” desde que falem
connosco.
As mais das vezes,
não é isto que encontramos nas redes sociais ou nas revistas massificadas de
fotografia.
Vendo a quantidade
quase que incontável de imagens fotográficas que são disponibilizadas todos os
dias, quase que podemos ficar com a ideia que foram feitas por apenas um
pequeno punhado de pessoas, de tão semelhantes e inócuas que são.
O ruído provocado
pela superabundância de fotografias sofríveis, ou nem isso, impede-nos de ver
ou reconhecer boas imagens.
By me
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