Faz tempo que não
encontro sapatos abandonados na rua.
Não sei se há
menos deitados fora, se os serviços de limpeza passam antes de mim ou se sou eu
que perdi a mão ou o olho para dar com eles.
Mas deu-me a
saudade de os encontrar.
Vai daí, decidi ir
dar um pequeno passeio no extremo do meu bairro.
Há por lá um
terreno que, por enquanto, ainda é um baldio, com um charco onde nidificam
patos selvagens e arruamentos de terra batida ainda.
Entre ele e os últimos
prédios, há aquilo que seria um parque infanto-juvenil, com espaço de jogos, de
skates e biclas, e onde as mamãs levam os pimpolhos, pelo seu pé ou no
carrinho, para aproveitar o fim do dia. Os mais velhinhos, a essa hora já por lá
estão, jogando bola ou apenas sentados à conversa. Elas para um lado, eles para
outro, alguns pares ensaiando o futuro.
Naquilo que seria
o ajardinado e que, regra geral, mais não é que ervas crescidas de permeio com
algum lixo escasso, costumo encontrar um ou dois sapatos, bastando para tal
caminhar com calma e olho atento. Não foi o caso de hoje.
Os funcionários
camarários andaram por ali e limparam tudo: ervas e lixo, deixando o que parece
ser a promessa de relva. Pelo menos o terreno está tratado.
Azar o meu que,
para encontrar o que procurava, tive que avançar pelo baldio, ervas e mato e
percorrendo os trilhos ali existentes, de permeio com os que ao fim do dia ali
vão correr, para encontrar este exemplar.
Veio para casa na
câmara, pendurada no ombro, qual troféu de caça.
E veio também a
memória de uma conversa entre-ouvida enquanto abordava um tronco carcomido pelo
fogo e navalhas de garotos. Conversavam nem sei sobre o quê, quando uma voz
feminina se fez ouvir mais alto:
“Oh Fábio! A
seguir a Agosto, que mês vem?”
“Outubro, acho eu.”
Foi a resposta.
Espreitei por cima
da objectiva, pequena que é a 50mm, e confirmei o que sabia: rondavam os 14/15
anos, eles e elas.
Que raio aprendem
eles na escola?
By me
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