Tinha acabado de
almoçar.
Ainda me sobravam
uns minutos antes de regressar ao local escuro onde trabalho pelo que me deixei
ficar sentado onde estava. E, não tendo melhor que fazer, observei com alguma
atenção a lata de refrigerante que me acompanhara as pataniscas.
Gosto desta
bebida, mas nunca se me tinha despertado a curiosidade sobre ela. Nem sabia o
que seja um “guaraná”, ainda suspeite tratar-se de um fruto. Ainda está por responder.
Porque, conforme
os meus olhos percorreram o exterior da lata, apercebi-me estar escrita em
quatro línguas: português (como se esperava), castelhano (o mercado espanhol é
grande e está mesmo aqui ao lado), polaco (coisa estranha e de todo insuspeita)
e hebreu. E foi aqui que “a porca torceu o rabo” e o almoço se me revoltou no estômago.
Que eu estivera a
beber exactamente o mesmo tipo de refrigerante, e feito no mesmo local, que aqueles
que ocuparam um território onde não viviam, decretaram regras não consentâneas
com os naturais do local, expulsaram-nos pela força, pela fé, pela fome, e que
ainda hoje os maltratam a torto e a direito. Baseados em leis que criaram
especificamente para proteger os “invasores” recusando direitos básicos aos
invadidos.
E se me vierem
falar da ancestralidade do direito à terra prometida (por um qualquer deus que
só eles reconhecem), fará sentido encolhermos o rabinho e zarparmos, se surgir por
aqui alguém a reclamar a posse da terra, falando em latim e com uma loba pela
trela.
Tão cedo não sei
se voltarei a beber disto, que passou a fazer-me azia.
Nota fotográfica
adicional: adoro a alvura e neutralidade dos guardanapos de papel, quando os
usamos como reflectores de emergência.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário