Um dia um tipo que
conheço comentou, depois de ter tido acesso a parte do que vou publicando
on-line:
“Olha lá! Afinal,
aquilo que tu fazes é ilustração, não é fotografia.”
Confesso que
fiquei uns segundos parado, a tentar entender se as palavras e o tom com que
foram ditas seriam um elogio ou um insulto. Eram um insulto. Não me espantei,
até porque seria de esperar a partir do pouco que dele conhecia. E o tempo
acabou por me dar razão.
Mas fiquei triste.
Triste por ele entender que a ilustração é algo menor, sem “arte”, sem “fogo
próprio”, limitada. E tão errado está quem assim pensa!
Um ilustrador,
seja qual for o suporte ou as técnicas que usa, é alguém que dá corpo visual
àquilo que outro escreveu ou fez. É alguém que aceita o desafio de imaginar e
materializar algo a partir de algo concreto, é alguém que torna mais rico algo
que já o era.
Para todos os que
assim pensam, sugiro que se recordem da enormidade de livros que conhecem, cuja
capa foi ilustrada por um ilustrador. Cujos interiores foram ilustrados por um
ilustrador. Infantil, juvenil, técnico, lúdico, didáctico… A quantidade de
ilustrações que acompanham os textos que, de outra forma, até (só até) se
poderiam tornar aborrecidos.
Ou ainda, comparem
os livros de estudo de há cinquenta anos com os de hoje. E tentem estudar pelos
primeiros.
Vem isto a
propósito de um livro que estou quase a terminar: “Los cachorros”. Editado em
Madrid em 2010 e escrito em castelhano, talvez seja dos livros que mais prazer
me deu ler nos últimos dez anos, quiçá bem mais.
A editora, “La
fabrica editorial” juntou na mesma obra um pequeno romance de Mário Vargas
Llosa com fotografias de Xavier Miserachs. Tanto quanto me foi dado a perceber
no texto da editora sobre esta colecção (“Palabra e imagen”), o objectivo foi o
relançar uma tradição livreira comum em Espanha à época do Franquismo, e quando
o audiovisual não tinha o peso de hoje: a junção do texto e da ilustração
fotográfica.
Ao que consegui
saber, os dois autores não se conheceram: o primeiro peruano, o segundo catalão.
O livro que aqui tenho é o resultado das opções do editor.
Mas se o texto é
delicioso e sonoro (caramba, como o é!) as fotografias são perfeitas,
preenchendo visualmente as eventuais lacunas que as letras possam deixar. Ou
vice-versa.
Comprei o livro
porque o nome do escritor me atraiu e porque as fotografias me encheram o olho.
E sem mais saber sobre o fotógrafo (grave falha minha) ou sobre o projecto
editorial que ali tinha.
Custou-me 12
euros.
De acordo com uma
opinião ouvida recentemente, este é o valor a partir do qual um livro se pode
classificar de caro. Não discuti a opinião, já que o valor dado a um livro
varia em função da taxa de esforço que represente em função dos rendimentos e
da importância que possamos dar à obra.
Por mim, entendo-o
por muito barato. O prazer que me está a dar na conjugação da palavra escrita
com a palavra fotografada, pese embora não terem sido criadas uma para a outra,
o sentir que gostaria de o continuar a ler e ver muito para além da última
página, o saber que o vou colocar num lugar de destaque aqui na estante de casa
e a certeza que não demorará muito até ter vontade de a ele voltar, transforma
o preço do livro em algo de muito barato.
Quando for grande,
quero poder escrever desta forma para as fotografias que faço. Ou fotografar
desta forma para os textos que escrevo. É-me indiferente a ordem dos factores.
By me
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